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sábado, 28 de dezembro de 2013

LEIAM: SUICÍDIO FATORES DE RISCO E INTERVERSÕES PREVENTIVAS

http://www.fen.ufg.br/revista/v12/n1/pdf/v12n1a24.pdf

Casos de suicídio aumentam entre jovens e também no final do ano

Todos os dias, pelo menos três pessoas tentam o suicídio na Bahia, segundo o Núcleo de Estudos e Prevenção do Suicídio
  
Não tem um dia em que a doméstica Josenice dos Santos, 45 anos, saia de casa tranquila para trabalhar. Ela é mãe de seis filhos, mas a preocupação é com o terceiro da família. Em oito meses, Fagner dos Santos, 19, já tentou se matar duas vezes – a última foi há duas semanas. 

“Na segunda-feira, ele almoçou e saiu de casa, sem avisar. Ninguém sabia onde estava. Fiquei louca, porque ele estava sozinho e podia fazer qualquer coisa”. Fagner apareceu três horas depois. Disse à mãe que fora à igreja, mas a angústia dela não diminuiu. 

Josenice não é a única preocupada com um filho como Fagner, nem ele é o único a viver o drama de querer tirar a própria vida. 

Todos os dias, pelo menos três pessoas tentam o suicídio na Bahia, segundo o Núcleo de Estudos e Prevenção do Suicídio (Neps), do Centro Antiveneno da Bahia (Ciave). E a maioria das tentativas  parte dos jovens.

Além disso, na época de festas de fim de ano, esse número aumenta. Só em dezembro, as ligações recebidas pelo Centro de Valorização da Vida (CVV), que atende pessoas com comportamento suicida, em Salvador, aumentam 40%.
Josenice é tomada por preocupação sempre que se afasta do filho Fagner, que já tentou suicídio duas vezes

Nos últimos 25 anos, o índice de suicídios cometidos por pessoas com idades entre 15 e 29 anos aumentou pelo menos 30% em todo o Brasil, segundo uma pesquisa do psiquiatra José Manoel Bertolote, professor da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp), autor de O Suicídio e Sua Prevenção. 

“Fizemos um estudo em São Paulo, com a análise dos atestados de óbito desse período. Entretanto, dados do Datasus (Banco de Dados do Sistema Único de Saúde) indicam a mesma tendência para o Brasil todo”, explicou.

Na Bahia, a tendência não é muito diferente. Só entre 2009 e 2011, houve um aumento de 14,1% dos suicídios naquela faixa etária: foram 113 em 2009, contra 129, em 2011, pelos dados do Datasus. 

Nos três anos, o total de jovens que se matou, 374, foi maior do que em qualquer outra faixa. Os suicídios dos jovens corresponderam a 30% de todos os casos: 1241. 

Risco 
“Na maioria dos casos, há uma combinação entre fatores predisponentes, como genética e transtornos mentais, com fatores precipitantes, como perdas afetivas. Mais de 95% dos adultos e 85% dos adolescentes que se suicidam tinham um transtorno psiquiátrico na ocasião. Isso constitui um dos fatores de risco”, afirma Bertolote.

No caso de Fagner, a mãe do adolescente acredita que as tentativas podem ter sido motivadas pela depressão, diagnosticada este ano. “Ele não era assim. Antes, ria, conversava, tinha amigos e namorada”, lembra Josenice. 

Quando criança, Fagner era espancado pelo pai com frequência. Aos 10 anos, chegou a fugir de casa –passou um mês em um estacionamento, na Avenida Paralela, até ser encontrado por uma tia.

Depois que voltou para casa, os pais se separaram e a vida se normalizou. “Não sei por que só veio aparecer agora, mas acho que foi muita pancada que ele levou na cabeça”, diz a mãe. Na primeira tentativa, Fagner foi flagrado por uma irmã quando tentava se enforcar com uma calça jeans. 

Josenice conseguiu socorrer o filho e ele começou o tratamento no Centro de Atendimento Psicossocial (Caps) de Pernambués. Mas, da segunda tentativa de suicídio do filho, ela só ficou sabendo depois. 

O jovem foi à passarela da Estação Mussurunga, com intenção de se jogar. “Nesse dia, ele me pediu para comprar salgadinhos, para vender na estação, só que ele passou o dia inteiro lá”. Quando chegou em casa, estava quieto. Dois dias depois, no consultório da psicóloga que o atende no Caps, Fagner revelou os planos. “Ele ficou lá parado, encarando a rua, todo o tempo, querendo fazer. Mas, por algum motivo, voltou”, diz Josenice.

Fagner não fala sobre o assunto. Mas, mesmo que o tema da conversa seja outro, ele fala pouco. Hoje, antes de sair, Josenice esconde facas e até carregadores de celular. “Vivo com medo, porque não estou no coração dele”.

Segundo a psiquiatra Rosa Garcia, professora aposentada da Ufba, é improvável que as agressões do pai de Fagner tenham lhe deixado sequelas físicas. “O problema é que a criança fica impotente diante dos maus tratos e esse trauma pode refletir”. Ainda de acordo com ela, a maioria dos casos de suicídio ou tentativa tem vínculo com a depressão.

“Mas, entre os jovens, além dos que se deprimem, existem aqueles que agem por impulso. Se tiverem uma briga com os pais, agem como a pessoa que discute no trânsito e sai para tentar agredir. Não existe reflexão”, diz Rosa Garcia.

Por isso mesmo, para a psiquiatra e professora da Escola Bahiana de Medicina,Manuela Lima, o suicídio entre os jovens está ligado ao imediatismo. “O limiar da frustração fica muito baixo, porque o jovem tem pouco amadurecimento psíquico. Se alguma coisa não sai do jeito que quer, é o fim do mundo”.

Foi por impulso que o empresário Carlos*, 26 anos, decidiu acabar com a própria vida. Há quatro anos, ele tomou 120 comprimidos. Era um ano difícil: o pai tinha morrido, a mãe e a irmã estavam em depressão e o namorado com quem se casaria o traiu.

“Naquele momento, não pensei. Senti que não tinha mais como resolver a dor pelo meu pai, nem a situação com minha mãe, minha irmã e o ex. Foram minutos de loucura, sem medir consequências”. lembra ele, que diz sempre ter sido controlado.

Hoje, depois de fazer tratamento psicológico intensivo, ele está bem. O problema é ter que lidar com o medo de que a irmã, de 22 anos, consiga o suicídio. Em cinco anos, a jovem já tentou três vezes – duas com medicações. 
“Morro de medo, porque ela é explosiva e não aceita tratamento. Ela não consegue trabalhar, entrar na faculdade, nem aceita diálogo... Ela não aceita viver”, lamentou.

Expectativas 
Basicamente, para muitos jovens, o suicídio é uma forma de lidar com o sofrimento, segundo a psicóloga Soraya Carvalho, coordenadora do Neps. “As duas maiores causas são o desamparo e a incapacidade da pessoa atender às expectativas. À medida que falham, as pessoas se precipitam”.

O importante, para Soraya, é estar atento aos avisos. De acordo com o CVV, que trabalha com prevenção ao suicídio, oito entre cada dez pessoas que se matam fazem algum tipo de anúncio prévio. “Se não avisa diretamente, pode dizer nas entrelinhas, como em 'minha vida não vale nada’”.

Quando a família não consegue perceber os avisos, a morte parece ainda mais repentina. Até hoje, os parentes do marceneiro Lucas Campos, 30, não conseguiram se recuperar da perda de um sobrinho dele, há quatro anos. “Nunca notamos nenhum aviso. Não achamos carta, nada”. 

Rafael*, que nasceu em São Paulo, tinha vindo morar em Salvador aos 15 anos. Filho de pais separados, chegou à Bahia para viver com o pai e a madrasta – mas a convivência nunca foi boa. “Ele começou a ter problemas com drogas”, lembra Lucas. 
 
Quando completou 17 anos, a namorada de Rafael o encontrou já morto, depois que ele se enforcou na própria casa. Desde então, ninguém comenta o assunto na família. “Isso é uma coisa que afeta todos. Não é fácil, sabe?”, desabafa o tio. 

Mesmo com o abalo, para a psiquiatra Manuela Lima, é importante falar sobre o suicídio. “As pessoas acham que falar pode aguçar, mas é preciso se informar. Isso deve ser explorado por médicos, familiares, amigos, todos. Não é para ser uma coisa velada, porque o comportamento suicida só é previnido quando a gente sabe da existência dele", concluiu.

*Nomes fictícios


Por telefone, voluntários dão apoio emocional 24 horas por dia


Se, para muita gente, o mês de dezembro é sinônimo de alegria, com Natal e Reveillon, para quem está deprimido, pode ser ainda mais angustiante. Nessa época, o número de ligações recebidas pelo Centro de Valorização da Vida (CVV), em Salvador, aumenta 40%. 

Os números são 141 ou 3322- 4111 Na sede da entidade, que tem um programa de prevenção ao suicídio, 21 voluntários se revezam por 24 horas para atender que precisa de apoio emocional. 

Segundo a coordenadora de divulgação do CVV, Josiana Rocha, a entidade recebe, em média, 50 ligações por dia. Mas, no mês de dezembro, as chamadas diárias chegam a 70. “Nesse período, as pessoas que não entram no clima de confraternização se sentem solitárias”. 

Quem ligar pode falar do que quiser e ter certeza de que o sigilo estará garantido. “Quando a pessoa liga, a gente percebe que ainda há uma esperança, que ela pode sair do sofrimento. A prevenção do suicídio acontece quando você tenta compreender a pessoa”. 

Quando a demanda cresce, o CVV enfrenta dificuldades. “Temos duas linhas telefônicas, mas, com nosso quadro de voluntários, só uma está sendo utilizada. O ideal seria que as duas funcionassem”, explica Josiana. 

Para  as duas linhas estarem ativas, ela diz que seriam necessários 84 voluntários – cada um trabalhando cinco horas por semana. Atualmente, mais da metade dos voluntários faz duas jornadas. Para ser um voluntário, basta ter 18 anos ou mais. Depois de inscrito, o interessado vai participar de um treinamento de três meses. 

Apesar de os atendimentos por telefone serem o forte da entidade, quem quiser conversar com um voluntário da entidade pessoalmente pode se dirigir ao posto da ONG em Salvador, que fica na Rua Bângala, em Nazaré, diariamente, das 8h às 18h. Também é possível ter atendimento online, no site www.cvv.org.br, com voluntários de todo o Brasil.
 http://www.correio24horas.com.br/detalhe/noticia/casos-de-suicidio-aumentam-entre-jovens-e-tambem-no-final-do-ano/?cHash=cc47c776668cfe5a51209fc35cc56312

quarta-feira, 21 de agosto de 2013



Estudo vincula recessão britânica a mil 



suicídios


Essa é uma sombria lembrança depois da euforia olímpica', diz sociólogo.
Número de suicídios também cresce em outros lugares da Europa.

A recessão, o desemprego e as medidas governamentais de austeridade já levaram mais de mil pessoas a cometerem suicídio na Inglaterra, segundo um estudo publicado nesta quarta-feira (15).
Essa análise comparou o número real de suicídios com a cifra que era esperada caso as tendências pré-recessão se mantivessem. O resultado reflete conclusões de outros lugares da Europa onde os suicídios também estão crescendo.
"Essa é uma sombria lembrança, depois da euforia olímpica, dos desafios que enfrentamos e dos que estão pela frente", disse o sociólogo David Stuckler, da Universidade de Cambridge, um dos autores do estudo publicado no British Medical Journal (BMJ).
Estatísticas
Segundo os pesquisadores, entre 2008 e 2010 houve 846 suicídios a mais entre homens na Inglaterra do que se poderia esperar, e 155 entre mulheres.
Entre 2000 e 2010, cada aumento anual de 10 por cento no número de desempregados correspondia a uma elevação de 1,4 por cento nos suicídios masculinos, segundo o estudo.
A análise usou dados do Banco de Dados Nacional de Resultados Clínicos e de Saúde, e do Departamento Nacional de Estatísticas.
Keith Hawton, professor do Centro para a Pesquisa do Suicídio, da Universidade de Oxford, que não participou do estudo, disse que as conclusões são "de considerável interesse, e certamente geram preocupações", mas que devem ser interpretadas com cuidado.
"Também é importante que não sejam excessivamente dramatizadas de forma a aumentarem os pensamentos suicidas entre aqueles afetados pela recessão", disse ele num comentário por e-mail.
Stuckler, que trabalhou com pesquisadores da Universidade de Liverpool e da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, salientou que, embora esse tipo de estudo estatístico não seja capaz de estabelecer um vínculo causal, há um forte indicador de que as duas coisas estão associadas.
Suas conclusões são reforçadas por outros indicadores sobre o aumento nos problemas de saúde mental, estresse e ansiedade, acrescentou. Ele também apontou que o estudo mostrou uma ligeira redução no número de suicídios em 2010, coincidindo com uma pequena recuperação no emprego entre os homens.





Estudo busca exame de sangue capaz 





de identificar risco de suicídio








Cientistas identificaram marcadores comuns a pessoas com maiores riscos.
Objetivo é criar uma ferramenta mais objetiva para prevenir o suicídio. 

Equipe liderada por Alexander B. Niculescu identificou uma série de biomarcadores de RNA no sangue que podem ajudar a identificar quem tem risco de cometer suicídio. (Foto:  Indiana University/Divulgação)Equipe liderada por Alexander B. Niculescu identificou uma série de biomarcadores de RNA no sangue que podem ajudar a identificar quem tem risco de cometer suicídio. (Foto: Indiana University/Divulgação)

Os resultados, publicados na revista “
Molecular Psychiatry”, mostram que existem biomarcadores que são encontrados com mais frequência em pessoas que apresentam pensamentos suicidas.Com o objetivo de desenvolver uma ferramenta mais objetiva para prevenir o suicídio, pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de Indiana, nos Estados Unidos, começaram a buscar características que pudessem ser identificadas em testes de sangue relacionadas ao comportamento suicida.
“Há pessoas que não revelam que têm pensamentos suicidas quando questionadas e que, em seguida, cometem suicídio, sem haver nada que se possa fazer sobre isso. Precisamos de melhores maneiras de identificar, interferir e prevenir esses casos trágicos”, diz o médico Alexander Niculescu, coordenador do estudo.
Para chegar a essa conclusão, a equipe liderada por Niculescu acompanhou um grande grupo de pacientes com transtorno bipolar, com quem foram feitas entrevistas e testes de sangue periódicos. Os cientistas, então, compararam as características do sangue de pacientes que relatavam pensamentos suicidas e pacientes que não tinham essa tendência.
Dessa forma, a equipe chegou a alguns possíveis marcadores de RNA relacionados ao comportamento suicida. Essas amostras foram comparadas, em seguida, com o sangue de pessoas que cometeram suicídio, comprovando que existiam marcadores comuns nesses grupos.
Finalmente, esses marcadores foram buscados em diferentes grupos de pacientes psiquiátricos. A presença dos marcadores realmente foi capaz de prever o risco da ocorrência de hospitalizações por tentativa de suicídio.
“Isso sugere que esses marcadores refletem mais do que apenas um estado atual de alto risco, mas podem ser marcadores relacionados ao risco de longo prazo”, diz Niculescu. Ele acrescenta que o recurso deve ser utilizado em conjunto com a análise de outros fatores de risco identificados clinicamente.

sexta-feira, 19 de julho de 2013

11/06/2013 - 03h40

Taxa de suicídio entre jovens cresce 30% em 25 anos no Brasil

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IARA BIDERMAN
DE SÃO PAULO
É uma das primeiras causas de morte em homens jovens nos países desenvolvidos e emergentes. Mata 26 brasileiros por dia. E ninguém quer falar no assunto.
No Brasil, a taxa de suicídio entre adolescentes e jovens aumentou pelo menos 30% nos últimos 25 anos. O crescimento é maior do que o da média da população, segundo o psiquiatra José Manoel Bertolote, autor de "O Suicídio e sua Prevenção" (ed. Unesp, 142 págs., R$ 18).
A curva ascendente vai contra a tendência observada em países da Europa ocidental, nos Estados Unidos, na China e na Austrália. Nesses lugares, o número de jovens suicidas vem caindo, ao contrário do que acontece no Brasil, aponta um estudo da University College London publicado no periódico "Lancet" no ano passado.
"Na década de 1990, a taxa de suicídios aumentava em todos os países do mundo, e a OMS [Organização Mundial da Saúde] lançou um programa de prevenção. Os países que fizeram campanhas de esclarecimento conseguiram baixar os números. É importante falar do assunto", diz o psiquiatra Neury Botega, da Unicamp.
TABU
O tema é tabu até para profissionais de saúde. Nos registros do Datasus (banco de dados do Sistema Único de Saúde), aparece como "mortes por lesões autoprovocadas voluntariamente". Um longo eufemismo, segundo Botega. Evita-se a palavra, mas o problema se perpetua.
Em cursos de prevenção, o psiquiatra registrou as crenças de profissionais de saúde. Muitos acham que perguntar à pessoa se ela pensa em se matar já pode induzi-la a consumar o ato.
Divulgação
Cena do documentário 'Elena', de Petra Costa (foto); diretora refaz trajetória da irmã, que se matou em 1990, aos 20 anos
Cena do documentário 'Elena', de Petra Costa (foto); diretora refaz trajetória da irmã, que se matou em 1990, aos 20 anos
"Não temos esse poder de inocular a ideia na pessoa. E, se não tentarmos saber o que ela está pensando sobre o assunto, não conseguiremos ajudá-la", diz o psiquiatra.
A taxa cresce por uma conjugação de fatores. "A sociedade está cada vez menos solidária, o jovem não tem mais uma rede de apoio. Além disso, é desiludido em relação aos ideais que outras gerações tiveram", diz Neury.
Há ainda uma pressão social para ser feliz, principalmente nas redes sociais. "Todo mundo tem que se sentir ótimo. A obrigação de ser feliz gera tensão no jovem", diz Robert Gellert Paris, diretor da Associação pela Saúde Emocional de Crianças e conselheiro do CVV (Centro de Valorização da Vida).
O aumento de casos de depressão em crianças e adolescentes é outro componente importante. "Mais de 95% das pessoas que se suicidam têm diagnóstico de doença psiquiátrica", diz Bertolote.
Junte-se tudo isso ao maior consumo de álcool e drogas e a bomba está armada.
"ELENA"
A cineasta e atriz mineira Petra Costa tinha sete anos quando a irmã mais velha se suicidou. Mais de 20 anos depois, Petra dirigiu o documentário "Elena", atualmente em cartaz, em que tenta entender e comunicar o que a irmã pensava e sentia.
"As pessoas têm dificuldade de falar e de ouvir sobre o assunto. A sociedade brasileira tem que aprender a conversar sobre suicídio, porque o número de casos só aumenta", diz Petra.
Falar de suicídio nunca foi tabu para a diretora. "Desde que eu tinha sete anos, quando Elena se suicidou, minha mãe conversava comigo sobre isso, nunca me escondeu nada", conta.
Mas ela logo percebeu que, fora de casa, o tema era proibido. "A primeira vez que falei do assunto com outras famílias que passaram por isso foi aos 27 anos, quando procurei grupos de parentes de suicidas. Então me senti compreendida em minha dor."
Petra conta que, logo após a morte de Elena, sua mãe procurou pessoas próximas de alguém que havia se matado. Mas todos se recusaram a conversar com ela.
Ela também lamenta que, à época do suicídio da irmã, as pessoas ao seu redor não tivessem informações sobre o assunto nem soubessem como falar sobre ele.
"O mais lastimável em relação à Elena é que, nos anos 1990, no grupo de pessoas com quem ela convivia, sabia-se pouco sobre bipolaridade, depressão, suicídio. A desinformação levou à tragédia", afirma Petra.
A cineasta tem interesse nessa causa. A produtora do filme, Busca Vida, está organizando debates sobre o tema. E Petra planeja criar o Instituto Elena, para prevenção de suicídios.
PREVENÇÃO
A troca de informações sobre o suicídio pode evitar muitos casos: de acordo com a OMS, dá para prevenir 90% das mortes se houver condições para oferta da ajuda.
Quem pensa em suicídio está passando por um sofrimento psicológico e não vê como sair disso. Mas não significa que queira morrer.
"O sentimento é ambivalente: a pessoa quer se livrar da dor, mas quer viver. Por dentro, vira uma panela de pressão. Se ela puder falar e ser ouvida, além de diminuir a pressão interna, passa a se entender melhor", diz Paris.
O CVV oferece apoio 24 horas pelo telefone 141 e pelo site www.cvv.org.br.
Editoria de Arte/Folhapress

sábado, 8 de junho de 2013

José Manoel Bertolote denuncia...


Há uma nefasta glorificação do suicídio

José Manoel Bertolote, consultor da Organização Mundial da Saúde, lança livro sobre a prevenção do suicídio e defende que se fale mais do tema
Fernanda Aranda , iG São Paulo | 06/05/2013 6:00

Enquanto a imprensa não fala do tema, as políticas preventivas titubeiam e os médicos varrem o assunto para baixo do tapete, 1.339 pessoas do Brasil foram internadas nos dois primeiros meses do ano após tentarem o suicídio.

Os dados do banco virtual abastecido pelo Ministério da Saúde – levantados pelo iG Saúde – apontam 22 casos por dia só nos dois primeiros meses de 2013.

Em meio ao sigilo imposto para tratar do suicídio, o psiquiatra professor da Faculdade de Medicina da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp) e consultor da Organização Mundial de Saúde (OMS) , José Manoel Bertolote, quer falar aos quatro cantos do planeta.

Ele acaba de lançar um livro (O Suicídio e sua Prevenção) com as estratégias para prevenir o evento que figura entre os líderes de causas de morte em vários países do mundo. No Brasil, é o quarto motivo mais incidente entre os óbitos por causas externas, atrás de homicídios, acidentes de transporte e causas não identificadas.

Em entrevista ao iG , Bertolote afirma que o silêncio e o tabu que marcam o assunto não impediram o surgimento de um “nefasto glamour em torno do suicídio”.

“São inúmeros sites na internet que ensinam, de forma muito didática, as pessoas a cometerem suicídio. Estes endereços eletrônicos disseminam comportamentos perigosos e precisam ser combatidos. Há uma glorificação atual da morte provocada. São músicas, clipes, filmes que apresentam o suicídio de uma forma artística, como uma moda a ser seguida”, afirma.

Para reverter o quadro, o especialista neste assunto proibido defende articulação e um debate com os líderes religiosos e com a Justiça – que ainda considera os suicidas criminosos.

Bertolate diz ainda que são necessárias mudanças na rede de saúde, com um trabalho forte para identificar os mais vulneráveis às lesões autoprovocadas.

Segundo ele, as pesquisas científicas atestam que, na maioria das vezes, há arrependimento em quem provoca a morte intencionalmente e nem sempre há chance de reverter o dano provocado.

“É penoso assistir a estes casos”. Leia a seguir a entrevista.

iG: A sociedade e a imprensa lidam com reservas com o assunto suicídio. Para a medicina o tema também é tabu?

Bertolote: Os médicos não são treinados para enfrentar a morte em geral, não só na questão do suicídio. Existe um mito de que a medicina é uma luta contra a morte. Os médicos têm uma tradição de sempre agir como se a morte fosse evitável, o que é um erro. Ninguém escapa da morte. Diante de um óbito, os profissionais reagem mal. Os estudantes não são preparados para falar sobre a morte com os seus pacientes, como se o perigo de morrer não existisse.

Talvez, isso seja fruto de um distanciamento necessário para a classe dar conta de enfrentar as situações nas emergências, nas unidades de terapia intensiva. Mas o fato é que essa distância acaba exagerada e o assunto é varrido para baixo do tapete. A questão do suicídio está inserida nesse panorama. O médico não detecta os sinais prévios do suicídio e se surpreende quando ele acontece.

Qualquer morte é uma tragédia familiar, mas quando ela é resultante das causas naturais e de doenças crônicas, com evolução lenta, há uma preparação familiar para o acontecimento. O suicídio, invariavelmente, é um acidente inesperado. Pega de surpresa e desperta dois sentimentos nos que ficam: perplexidade que desemboca em culpa. É comum os familiares se perguntarem: ‘onde eu falhei?’, ‘o que foi que eu não vi?’. Mas também é despertada uma raiva: ‘por que ele fez isso comigo’. São duas sensações, de fracasso e de raiva, que atrapalham muito a recuperação desta família.

iG: O senhor é um grande defensor da prevenção do suicídio, tema do seu último livro. Existe uma estratégia universal de prevenção?

Bertolote: Não é possível prever todos os casos. O suicídio continua sendo um evento raro, ainda que subestimado. Isso significa que o custo para aplicar uma estratégia de prevenção universal, fazendo uma avaliação de toda a população, seria muito alto diante das estatísticas de morte não tão numerosas.

Mas o fato é que algumas pessoas são mais vulneráveis ao suicídio do que outras. E para estas vulneráveis é imprescindível que sejam dirigidas ações preventivas, o que não é feito. Já está embasado que doenças como depressão, alcoolismo e esquizofrenia aumentam a vulnerabilidade ao suicídio. Existem condições que não são doenças – no sentido do termo – mas transtornos de comportamento que também ampliam o risco. Além delas, sabemos que doenças físicas, crônicas, incuráveis e de natureza dolorosa também estão mais associadas ao fenômeno.

O exemplo da aids é contundente, com estudos muito bem-feitos. Na época em que não existiam tratamentos para o HIV, as taxas de suicídios entre os soropositivos eram muito mais altam e foram diminuindo com o surgimento de terapias efetivas contra o vírus. Hoje, sabemos que ainda é necessário um trabalho preventivo com os pacientes de aids e também com os portadores de doenças neurológicas degenerativas, certas formas de câncer e até cefaleias (dores de cabeça muito fortes) crônicas.

Outro ponto de atenção é para as demências senis, quando estão no início do quadro. Os idosos que preservam certa lucidez no começo dos sintomas também estão mais vulneráveis por não saberem lidar com as limitações impostas pela doença.

iG: Esta associação com doenças crônicas pode ser uma das explicações para os casos de suicídio estarem mais concentrados na população maior de 60 anos?

Bertolote: Sim. O suicídio é um fenômeno masculino, característico de idosos e não de jovens, apesar de também acontecer entre os mais novos. No final da vida, são acumuladas mais doenças e limitações. Elas ficam penosas com o passar dos anos e estão associadas com este fenômeno.

iG: É possível classificar o suicídio como uma doença ou um sintoma?

Bertolote: Suicídio é uma causa de morte. Existem as causas naturais, as causas acidentais, os homicídios e os suicídios. Não é uma doença. Mas é certo que é uma causa de morte frequentemente associada a certas doenças. É bom lembrar que nem todos os depressivos são suicidas, por exemplo.

iG: Um dos temores ao falar sobre suicídio é que o fato pode desencadear comportamentos semelhantes em cadeia. Sua experiência mostra que isso realmente ocorre?

Bertolote: Existe o fenômeno social da imitação e também o fenômeno do contágio. Há um emprego cada vez mais frequente de tentativas de suicídio que são mais letais, que não existiam antes. Até anos atrás não havia a facilidade existente hoje para conseguir uma arma de fogo. Com isso, aumentaram as tentativas de suicídio usando este método que acabam resultando em mortes que antes não seriam exitosas para o óbito, já que as tentativas eram menos letais.

Outra mudança que eu considero nefasta é que hoje também existe uma glorificação do suicídio. São inúmeros sites na internet que ensinam, de forma muito didática, as pessoas cometerem suicídio. Estes endereços eletrônicos disseminam comportamentos perigosos e precisam ser combatidos. Há uma glorificação atual da morte. São músicas, clipes, filmes que apresentam o suicídio de uma forma artística, glorificada.

Assim como num passado recente existiu o culto às doenças mentais, disseminados por filmes do Woody Allen, por exemplo. Virou ‘cult’ ter uma doença psíquica. Hoje, usando mecanismos muito parecidos, vejo que há uma cultura que ostenta a morte provocada como algo ‘in’, que está na moda. É algo nefasto porque as pessoas acabam embarcando nisso.

iG: O senhor considera que está glorificação é resultante de quais fatores?

Bertolote: Talvez seja um reflexo do desencanto com o contemporâneo. Digo isso sem embasamento científico nenhum ou estudo aprofundado, mas a minha avaliação é que a glorificação do suicídio é influenciada por essas transformações rápidas do mundo atual, sejam das formas de comunicação ou de tecnologia. As pessoas não se adaptam, não acompanham. A mensagem que fica é que a vida perde a graça muito fácil e neste contexto é perigoso que as músicas, os videoclipes e a arte apresentem o suicídio de maneira tão glamourizada.

Mas também existe um grupo que não sabe lidar com o sofrimento e que encara o suicídio como uma possibilidade de solução. Para estas pessoas, a morte provocada pode ser influenciada por um modelo de transmissão. Por exemplo: caso alguém de destaque, que sirva como uma referência, como um pai, um avô, um ídolo, cometa suicídio, a mensagem para esta parcela é de que este pode ser um caminho a ser seguido. Por isso, precisamos falar, sem tabus, mas de forma coerente e contundente sobre o assunto.

iG: Este modelo de transmissão é o que pode explicar vários casos de suicídio em uma família? Não existiria uma explicação genética para um núcleo familiar em que o pai comete o suicídio e anos depois o filho também, por exemplo?

Bertolote: Sim, existe esta influência da transmissão do suicídio como alternativa que pode explicar os casos em família. Outro ponto é que apesar de não herdarmos o ‘gene’ do suicídio, se herdam vários genes, que estão associados a outras doenças, que deixam a pessoa mais vulnerável e predisposta a esta causa de morte.

iG: O senhor afirma com convicção científica que parte considerável dos suicidas não quer morrer. Isso reforça a importância da prevenção?

Bertolote: O suicídio é uma situação de ambivalência. Não está em questão apenas se a pessoa quer viver ou morrer. Ela quer escapar de uma situação desagradável, angustiante, de sofrimento absoluto. E quase sempre, quando opta pelo suicídio, percebe que não é uma boa escolha.

O arrependimento está muito catalogado em todas as pesquisas que se propuseram a estudar o tema. São trabalhos de extrema qualidade, feitos no Japão, em vários países da Europa, no Islã, que entrevistaram pessoas que tentaram o suicídio, foram hospitalizadas após a tentativa, muitas em estado grave e irreversível para a sobrevivência. É penoso demais atestar que a maioria estava arrependida, desesperada ao constatar que a morte era irreversível. Enfim, todos os estudos concluem que o arrependimento é muito presente e sim reforça a necessidade de prevenção.

iG: Desde que o senhor passou a pesquisar o suicídio, quais mudanças pontuaria na forma de encarar este fenômeno?

Bertolote : A transformação mais importante, ainda em curso, é a maneira como os religiosos passaram a encarar o suicídio. Muitas religiões, independentemente do ponto de vista médico ou jurídico, consideram o suicídio um pecado imperdoável. Este é um ponto em comum do catolicismo, do judaísmo (que prevê até cemitérios diferentes para quem se mata) e do islamismo, que coloca o ato como o pior dos pecados. Enquanto estive na Organização Mundial de Saúde (OMS) insistia com frequência em trabalhar com as lideranças religiosas para que eles entendessem este fenômeno como um processo patológico em vez de punir as famílias e resignar aqueles que tentaram o suicídio como um pecador imperdoável.

Busquei informações sobre esta condenação religiosa do suicídio e constatei que há teólogos que elaboram o suicídio como pecado, mas essa determinação ficava mais a critério de cada um. Por isso, fiz inúmeras reuniões com bispos, líderes protestantes e islâmicos, do judaísmo e com muita satisfação percebia que eles ficavam menos resistentes ao tema e já vejo uma mudança de postura, de acolhimento e não de rejeição. Este comportamento por parte das religiões implica também em mudar as leis. Em muitos países, inclusive no Brasil, suicídio ainda é considerado crime. Porém, há pelo menos 30 anos, não tenho conhecimento de nenhum processo jurídico aberto para julgar um caso desses. Felizmente.

iG: Além da mudança comportamental, o senhor acredita que a estrutura de saúde também precisa ser transformada para prevenir o suicídio?

Bertolote: Sem dúvida. Os médicos precisam ser treinados para identificar os sinais prévios ao suicídio e também ficar atentos aos casos mais vulneráveis. Aqui em Botucatu (interior de SP), onde atuo por meio da Faculdade de Medicina, tomamos uma decisão: se uma pessoa comparece com sinais de depressão a qualquer unidade de saúde, seja um posto, um hospital ou um serviço de saúde da família, a orientação é para que ela seja acompanhada até um serviço especializado e não encaminhada para que faça isso com as próprias pernas. Acompanhar é diferente de encaminhar, sugerir. Se ela for apenas encaminhada, pode ser que não chegue.

Fonte: http://saude.ig.com.br/minhasaude/2013-05-06/ha-uma-nefasta-glorificacao-do-suicidio.html

CVV promove debate sobre prevenção do suicídio na Virada Sustentável 2013

Sustentabilidade da própria vida, no dia 8 de junho no Parque da Água Branca, tenta chamar a atenção da sociedade e quebrar tabus

O CVV, entidade que atua gratuitamente há 51 anos na prevenção do suicídio, promoverá no dia 8 de junho um debate com o tema “Sustentabilidade da própria vida – a prevenção do suicídio no foco do ser humano”, como parte da programação da Virada Sustentável 2013.

Com entrada franca, o debate será realizado por quatro profissionais de diferentes formações, visões e percepções, o que permite um ambiente bastante enriquecedor. A participação da plateia, com perguntas, depoimentos e comentários, deverá ampliar a discussão. Os nomes dos debatedores será confirmado em breve.

O suicídio no Brasil

No Brasil, 25 pessoas morrem vítimas de suicídio por dia e ao menos outras 50 tentam tirar a própria vida. De todos os casos, mais de 90% poderiam ser evitados. Segundo pesquisa da Unicamp, 17% dos brasileiros pensaram seriamente em cometer suicídio no decorrer de suas vidas.

Apesar da seriedade do assunto, o suicídio ainda é um tabu na sociedade brasileira o que dificulta a sua prevenção. O CVV acredita que uma forma importante de se evitar novos casos é conversar sobre o assunto para derrubar mitos e quebrar tabus.

Sustentabilidade da própria vida – a prevenção do suicídio no foco do ser humano
Data: 8 de junho, das 15h às 17h
Local: Parque da Água Branca – auditório da administração
Endereço: Avenida Francisco Matarazzo, 455 – Água Branca – São Paulo

Sobre o CVV
O CVV - Centro de Valorização da Vida, fundado em São Paulo em 1962, é uma associação civil sem fins lucrativos, filantrópica, reconhecida como de Utilidade Pública Federal em 1973. Presta serviço voluntário e gratuito de apoio emocional para todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo. Os mais de um milhão de atendimentos anuais são realizados por 2.200 voluntários em 18 estados mais o Distrito Federal, pelo telefone 141 (24 horas), pessoalmente (nos 72 postos de atendimento) ou pelo site www.cvv.org.br via chat, VoIP (Skype) e e-mail.

É associado ao Befrienders Worldwide (www.befrienders.org), entidade que congrega as instituições congêneres de todo o mundo e foi reconhecido pelo Ministério da Saúde como a melhor iniciativa não governamental de prevenção ao suicídio no Brasil.

Possui membro na Rede Mundial de Suicidólogos (www.redmundialsuicidiologos.org), entidade sem fins lucrativos com representes de 42 países.

Fonte:
Querido leitor - Rosana Hermann
http://noticias.r7.com/blogs/querido-leitor/cvv-promove-debate-sobre-prevencao-do-suicidio-na-virada-sustentavel-2013/2013/05/28/

domingo, 19 de maio de 2013



Suicídio, modo de evitar

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FERNANDO TADEU MORAES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Prevista para este ano, a inclusão de uma categoria de comportamentos suicidas no novo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, o chamado DSM 5, referência na área de saúde mental em todo o mundo, pode ajudar os médicos a quantificar melhor esse fenômeno, em especial as tentativas, cujas taxas podem ser 40 vezes mais altas do que as dos suicídios consumados.
Essa é a opinião do psiquiatra José Manoel Bertolote, que acaba de lançar "O Suicídio e sua Prevenção" [Unesp, 142 págs., R$ 18]. Ele afirma, em entrevista à Folha, que a depressão, o alcoolismo e a esquizofrenia são as três principais causas por trás das mortes autoinflingidas.
Estima-se hoje em 1 milhão o número anual de mortes por suicídio em todo o mundo. Isso o coloca como uma das "três principais causa de óbitos em determinadas faixas etárias de vários países e em várias regiões do globo", escreve Bertolote. No livro, o psiquiatra traça um histórico sobre o tema a respeito do qual já se debruçaram teólogos, juristas, filósofos, sociólogos entre outros, e analisa, sob o prisma da saúde pública, suas causas no Brasil e no mundo.
Bertolote, 65, trabalhou por quase 20 anos na OMS (Organização Mundial da Saúde), onde chefiou a equipe de transtornos mentais e neurológicos. Uma de suas atribuições nesse período era auxiliar países a elaborar políticas de prevenção de suicídio. Hoje, ele é professor voluntário na Faculdade de Medicina da Unesp, em Botucatu, na qual se formou em 1971.
Durante a entrevista, Bertolote fez um pedido: gostaria que fosse incluído neste texto o número do telefone do Centro de Valorização da Vida, o CVV: 141.
*
Folha - Como o sr. vê a inclusão da categoria de comportamentos suicidas no novo manual de psiquiatria?
José Manoel Bertolote - Vejo com bons olhos. Hoje há boas estatísticas de mortes por suicídio para cerca de dois terços do mundo, mas não há um registro centralizado de tentativas de suicídio. Se uma pessoa ingere um veneno e vai parar no pronto-socorro, o caso é registrado como intoxicação; se ela corta os pulsos, lesão cortante. A intencionalidade acaba nunca sendo registrada.
A inclusão de uma categoria de comportamento suicida é bem-vinda, pois vai permitir dar uma visão melhor desse quadro. Estudos mostram que a taxa de tentativa de suicídios chega a ser 40 vezes mais alta que a taxa de suicídios consumados.
Como o suicídio se tornou um assunto da medicina?
Até cerca de três séculos atrás, o suicídio era basicamente um problema teológico. O catolicismo considerava o suicídio um pecado grave, o islamismo considera até hoje o pior pecado, pois é a destruição da obra divina. Havia também o interesse de filósofos e, na Inglaterra e em vários outros países, o suicídio era considerado uma morte indigna. O direito o tratava como um crime contra o Estado.
Foi a partir dos séculos 17 e 18 que médicos passaram a se interessar pela questão do suicídio e a considerar que o suicídio tinha uma relação estreita com a saúde, porque eles julgavam que todo suicídio era um ato de loucura. E isso foi ganhando adesão com o tempo. No século 20, consolidou-se a ideia de que o suicídio é um problema de saúde e, sobretudo, de saúde pública.
Há relação entre suicídio e doença?
O suicídio, em primeiro lugar, não é uma doença. Na perspectiva da saúde pública, é um fenômeno social de distribuição irregular na sociedade. Mas há estudos em todo o mundo que mostram que, por trás de grande parte das mortes por suicídio, existem doenças.
A maioria dessas doenças são mentais, mas há também uma grande associação entre suicídio e doenças incuráveis e dolorosas. A mortalidade de portadores de HIV por suicídio, por exemplo, caiu muito depois do advento do coquetel de drogas, quando ela deixou de ser essa doença mortal. As doenças mais associadas ao suicídio são a depressão, o alcoolismo e, um pouco atrás, a esquizofrenia.
Quais são os limites da prevenção do suicídio?
Não acredito que o suicídio possa ser erradicado, pois é um fenômeno humano que existe desde sempre. Há, por exemplo, uma porcentagem de suicídios por trás da qual, por mais se investigue, não se encontra uma doença ou causa clara.
Durkheim, em sua tipologia de suicídios, fala do suicídio altruísta [situação em que um indivíduo está tão conectado a sua comunidade, que abdica de sua individualidade, acreditando que sua morte pode trazer benefícios para a sociedade]. Como é que se vai prevenir isso? Não há o menor sentido. Não é disso que a prevenção do suicídio se ocupa. A prevenção se ocupa dos casos considerados evitáveis, porque decorrentes de um fator que poderia ser removido [como o alcoolismo].
Um dado importante e comprovado é que a maioria das pessoas que tentam o suicídio não quer morrer. São pessoas que querem mudar uma situação, escapar de um problema e, às vezes, a situação é tão tantalizante que a pessoa não enxerga outra saída. Há estudos com pessoas que fizeram uma tentativa de suicídio por um método muito letal e estão próximas de morrer. Elas são entrevistadas nesse momento. A imensa maioria fica desesperada quando percebe que vai morrer e que é irreversível.
A mídia deveria ter um papel nessa prevenção?
A mídia tem um grande papel na prevenção do suicídio. Há um mito de que não se pode tocar no assunto nos jornais. A imprensa pode ajudar ou atrapalhar de acordo com a forma que trata o assunto. Abordar o tema com sensacionalismo, promovendo o ato, explicando métodos etc. só atrapalha, já que sempre existe, em toda população, um certo número de indivíduos suscetíveis. Agora, abordar de uma maneira potencialmente educativa ajuda, sem dúvida.
O que o sr. acha de grupos como CVV e Samaritans [fundação inglesa aberta em 1953 dedicada à prevenção do suicídio]?
Eu já trabalhei com CVVs e Samaritans de vários países do mundo e tenho muita admiração pelo trabalho deles. Um ponto importante a ressaltar é que eles não fazem só a prevenção do suicídio; seu grande mérito é auxiliar uma pessoa em crise. Eles conseguem solucionar uma crise que talvez hoje não fosse suicida, mas que, pela falta de perspectiva, poderia evoluir para uma crise suicida. Penso que eles deveriam ser estimulados pelas autoridades sanitárias.
Como é o suicídio entre as populações indígenas?
As taxas de suicídios em populações indígenas são as mais altas em qualquer país do mundo, segundo estudos. Isso se explica com fatores sociológicos. Em geral populações indígenas são marginalizadas, pobres. Além disso, cada vez mais se identifica nessas populações indígenas o álcool como um fator desagregador, desestabilizador, causando conflitos e levando ao suicídio.
O álcool que havia em populações tradicionais indígenas brasileiras era o cauim, uma bebida de rituais, com baixo teor alcoólico; aí, de repente, eles pegam a cachaça, que tem um teor alcoólico altíssimo. E isso se agrava, pois as populações indígenas da América são de origem asiática, e é muito comum entre os asiáticos uma alteração genética que dificulta o metabolismo do álcool. Juntando todos os fatores, temos uma situação muito trágica numa população pequena de índios.
Pode-se falar de um luto diferente para os parentes de um suicida?
O luto de uma perda inesperada, sobretudo por uma forma inaceitável, é um luto mais complicado que o luto "normal". O suicídio sempre desperta nos que ficam no mínimo dois sentimentos: culpa e raiva. Isso causa um mal-estar tão grande que chega a ser um fator de risco de suicídio. São relativamente comuns suicídios em famílias em que um membro acaba de se suicidar.
Há um importante movimento internacional de sobreviventes, chamado Survivors, fundado por um casal americano que perdeu sua única filha pelo suicídio. Eles se aproximam de famílias em luto para conversar, compartilhar experiências. O resultado é o desenvolvimento de uma solidariedade intragrupal e o sentimento de solidariedade e responsabilidade pelos outros.
Entre 1980 e 2008 a taxa de suicídios de homens brasileiros quase dobrou. Quais são as possíveis explicações para isso?
Foi um aumento muito localizado, em jovens de 16 a 25 anos. O que vou dizer agora é mais uma impressão do que uma afirmação científica. Duas coisas que afetam particularmente esse grupo aconteceram nesse período: por um lado, houve uma explosão do número de usuários de drogas; por outro, houve a reforma psiquiátrica que fechou radicalmente o número de leitos psiquiátricos. Esses leitos foram fechados no momento em que o aumento dos usuários de drogas pedia um número maior. A sociedade nesse período também se tornou mais violenta. Na mesma época, houve aumento do número de homicídios, especialmente entre os jovens.
O que se sabe sobre as bases genéticas do suicídio?
Essa é uma área pobre de resultados. Eu, particularmente, acho muito improvável que alguém encontre o gene do suicídio. O que se sabe é que existem genes da violência. Nos indivíduos com alto risco de violência, isso pode se expressar como um suicídio dramático ou como um homicídio. Casos de pessoas que pegam uma arma, matam vários e depois se matam certamente envolvem pessoas extremamente violentas.
Uma grande dificuldade é que grande parte dos estudos genéticos é feito com gêmeos. Suicídio é um evento relativamente raro; encontrar gêmeos não é tão comum; e encontrar gêmeos nos quais um se matou e outro não é mais difícil ainda, o que torna as análises estatísticas muito pobres. O suicídio é uma coisa muito mais complexa do que pode ser expressada por um gene.
Como o sr. vê o direito ao suicídio?
Eu sou um pouco antiquado, acredito no juramento de Hipócrates, que diz que a tarefa principal do médico é preservar a vida. Claro que existem limites nos quais a preservação da vida não tem mais sentido. Filosoficamente, eu consigo entender alguém que, em plena posse de suas faculdades mentais, queira se matar; medicamente eu não tenho meios de justificar isso.
Vejo o direito ao suicídio com ressalvas, mas sempre fica a pergunta incômoda: quem sou eu para dizer a alguém aparentemente consciente dos seus atos e que quer se matar que ele não deveria fazer isso?


Em tempo: evento de prevenção ao suicídio em Fortaleza-CE


Pravida inscreve para curso de prevenção ao suicídio 

O Programa de Apoio à Vida (Pravida), da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará, vinculado à Pró-Reitoria de Extensão, realiza o VI Curso de Prevenção do Suicídio como parte dos esforços de conscientização sobre e prevenção ao suicídio no Ceará. O curso é destinado a estudantes e profissionais de todas as áreas em que o tema do suicídio apareça como questão. Os interessados podem fazer a pré-inscrição no endereço eletrônico tinyurl.com/cursopravida.

O curso acontecerá nos dias 13, 15, 17, 20, 22, 24, 27, 29 e 31 de maio e 3 de junho, das 18h às 22h, no auditório da Pró-Reitoria de Extensão da UFC (Av. da Universidade, 2932, Benfica), em Fortaleza.

Serão abordados temas como "suicídio e os cinco principais transtornos mentais", "suicídio e epidemiologia", "a entrevista psicológica do paciente com ideação suicida", "suicídio e mídia", "como os profissionais de saúde lidam com a morte", "suicídio e aspectos legais", "como proceder com os sobreviventes de tentativa de suicídio", dentre outros.

O valor da inscrição é de R$ 60,00 para estudantes e R$ 90,00 para profissionais. O pagamento pode ser feito à vista, com um dos integrantes do Pravida, ou pelo endereço eletrônico já informado, via PagSeguro (boleto bancário, cartão de débito ou cartão de crédito em até 12 parcelas). Os organizadores esclarecem que, por conta de algumas taxas administrativas da operadora financeira, o pagamento on-line sofrerá um pequeno acréscimo de R$ 10,00, totalizando R$ 70,00 para estudantes e R$ 100,00 para profissionais.

Sobre o Pravida – O Pravida, criado em 2005, é formado por acadêmicos de Medicina e Psicologia, coordenados pelo psiquiatra Fábio Gomes de Matos. O projeto presta serviço de atenção especializada às pessoas que tentaram o suicídio, além de formar um grupo de estudos e de discussão acerca do tema e realizar atos públicos e cursos direcionados para estudantes e profissionais de saúde. Os atendimentos são feitos às quintas-feiras a partir das 14h, no Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC), na Rua Capitão Francisco Pedro, 1290, Campus do Porangabuçu, em Fortaleza. Saiba mais em pravidaufc.webnode.com.br.

Mais informações: Talita Pinheiro, Psicologia UFC – fone 8801.3785 / Luidianne Araújo, Psicologia UFC – fone 85 8795.2028 / Erick Rebouças, Medicina UFC – 85 8617 1969 / Samanta Medeiros, Medicina UFC – fone: 85 9958 1044.

terça-feira, 9 de abril de 2013

Suicídio: prevenção possível em 90% dos casos


Escrito por André Trigueiro   
cvv telefonePrevenção de doenças se faz com informação. E que o que vale para dengue, AIDS, câncer de mama, tuberculose e hanseníase vale também para suicídio. Em 90% dos casos, os casos oficialmente registrados de suicídio estão relacionados a transtornos mentais como depressão, reações ao uso de drogas lícitas ou ilícitas, esquizofrenia, transtornos de personalidade e outros males que podem ser tratados se houver diagnóstico e acompanhamento médico. O apoio de familiares e amigos é considerado fundamental.
O assunto merece atenção porque tanto no Brasil quanto no mundo, suicídio é caso desaúde públicaQuando a Organização Mundial de Saúde revelou que aproximadamente três mil pessoas se matam por dia; que esse número cresceu 60% nos últimos cinquenta anos, especialmente nos países em desenvolvimento; e que o suicídio já é uma das três principais causas de morte entre os jovens e adultos de 15 a 34 anos, poucos veículos de comunicação se interessaram em abrir espaço para essas informações.
Talvez tenha prevalecido a tese de que qualquer menção ao suicídio na mídia possa fomentar a ocorrência de novos casos. O risco de fato existe quando se explora o assunto de forma sensacionalista, dando visibilidade a detalhes mórbidos que possam inspirar a repetição do gesto fatal. Mas a própria OMS recomenda enfaticamente a veiculação através da mídia de informações que ajudem na prevenção do suicídio. "A disseminação de informação educativa é elemento essencial para os programas de prevenção; nesse sentido, a imprensa tem um papel relevante", é o que se lê na apresentação do manual de prevenção do suicídio dirigido aos profissionais de imprensa pelo Ministério da Saúde em parceria com a Organização Pan-Americana de Saúde.
E quais são as informações relevantes que precisam ter mais espaço na mídia? Além do fato de que o suicídio é prevenível na maioria absoluta dos casos, é igualmente importante reconhecer as circunstâncias em que há "risco de suicídio", principalmente quando a pessoa verbaliza o desejo de se matar − nesses casos os profissionais de saúde informam que a maioria das pessoas que tiraram a própria vida comunicou a intenção previamente − ou quando apresenta os sintomas de depressão, que, nas manifestações mais graves, requer cuidados redobrados. No enfrentamento da depressão, estima-se que dois terços das pessoas tratadas respondem satisfatoriamente ao primeiro antidepressivo prescrito.
Embora este seja um assunto ausente na mídia, estima-se que ocorram 24 casos por dia no Brasil. Aqui ainda se registram taxas pequenas em relação a outros países (3,9 a 4,5 para cada cem mil habitantes), mas em números absolutos já estamos entre os dez países do mundo onde ocorrem mais suicídios (aproximadamente oito mil casos por ano), uma quantidade certamente bem superior, considerando que muitos atestados de óbito omitem a intenção do suicídio em mortes oficialmente causadas por acidentes de trânsito, overdose, quedas etc. Há outros números que deveriam justificar uma preocupação maior da sociedade em relação ao problema: as tentativas de suicídio ocorrem numa proporção pelo menos dez vezes superior ao dos casos consumados e para cada suicídio, há em média cinco ou seis pessoas próximas ao falecido que sofrem consequências emocionais, sociais e econômicas.
Omitir essas informações da sociedade significa esconder a sujeira debaixo do tapete e fingir que o problema não existe. Se prevenção se faz com informação, é preciso enfrentar com coragem o tabu que envolve o suicídio. Tão importante quanto rastrear as causas desse problema de saúde pública − incentivando a realização de pesquisas, seminários e congressos científicos − é apoiar e divulgar o trabalho realizado nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) do Ministério da Saúde espalhados por todo o país (informações através DISQUE SAÚDE: 0800 61 1997) e também pelas redes de proteção que trabalham em favor da vida, como é o caso dos grupos de apoio que reúnem os "sobreviventes de si mesmo", aqueles que tentaram, mas não conseguiram se matar; familiares e amigos de suicidas que compartilham suas experiências em dinâmicas de grupo conduzidas por terapeutas; e organizações voluntárias que realizam gratuitamente um serviço de apoio emocional e prevenção do suicídio por telefone como é o caso do Centro de Valorização da Vida (CVV) pelo número 141.

Para saber mais:
Suicídio: uma morte evitável (Ed. Atheneu; Henrique Côrrea e Sérgio Perez Barrero)
O suicídio (Ed. Martin Claret; Emile Durkheim)
Tentativa de suicídio - Um prisma para compreensão da adolescência (Ed. Revinter; Enio Resmini)
Comportamento suicida (Ed. Artmed; Blanca Guevara Werlang; Neury Botega)
O demônio do meio-dia - Uma anatomia da depressão (Ed. Objetiva; Andrew Solomon)


Prevenção do suicídio em Portugal discutido por parlamentares

Os debates em torno do Plano Nacional de Prevenção do Suicídio 2013/2017 em Portugal continuam acirrados e indicam que o tema tem se tornado corriqueiro, o que é um bom sinal, por se tratar de uma discussão necessária.

E no Brasil? Quando começaremos efetivamente a elaborar um plano nacional e fazê-lo chegar na mídia?!


Audição do grupo de trabalho que elaborou o Plano Nacional de Prevenção do Suicídio 2013/2017

De acordo com o Plano Nacional de Prevenção do Suicídio (PNPS) 2013/2017, o suicídio é um fenómeno complexo que resulta da interceção de diversos fatores de ordem filosófica, antropológica, psicológica, biológica e social.

A nível mundial, o suicídio é responsável por uma taxa de mortalidade global de 16 por 100.000 habitantes, sendo a 13ª causa de morte, a terceira causa de morte no grupo etário dos 15 aos 34 anos e a segunda causa de morte nos jovens dos 15 aos 19 anos. As tentativas de suicídio são a sexta causa de défice funcional permanente.

Na maioria dos países europeus, o número anual de suicídios é superior ao das vítimas de acidentes de viação: nos 27 países da União Europeia a taxa média de suicídio por 100.000 habitantes foi, em 2010, de 9,4 enquanto o número de mortes por acidentes de viação foi de 6,5 por 100.000 habitantes.

Em 2010, em Portugal, a taxa de suicídios por 100.000 habitantes foi de 10,3; esta taxa é superior à de quaisquer outras mortes violentas, como sejam os óbitos causados por acidentes de viação ou por acidentes de trabalho.

O PNPS afigura-se como uma necessidade do país, tendo em conta o impacto do suicídio na saúde pública, o aumento das taxas de suicídio registado pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) na última década, a subnotificação dos suicídios que oculta a verdadeira dimensão do fenómeno, a prevalência de fatores de risco nomeadamente da doença mental, a dificuldade na harmonização da terminologia relacionada com os diversos tipos de atos suicidas e comportamentos autolesivos, a dificuldade de registo e avaliação da efetividade das medidas implementadas ou a implementar e a necessidade de criar sinergias com as experiências e recursos existentes.

Refere-se no PNPS que “o compromisso político é essencial para garantir que a prevenção do suicídio recebe os recursos de que necessita, bem como a necessária atenção por parte dos líderes nacionais e regionais”. Neste sentido, são efetuadas diversas considerações sobre as repercussões da crise na saúde mental considerando-se que “a utilização de recursos de proteção social” faz a diferença na prevenção e redução do número de suicídios. Relativamente ao investimento em saúde mental nas crises constata-se que “o investimento em saúde mental é custo-efetivo, sobretudo nos períodos de crise”.

No que concerne a bebidas alcoólicas e crise, preconiza-se “o aumento do preço, a definição de preço mínimo, o reconhecimento precoce de consumos bem como de depressão e risco de suicídio, desenvolvimento de competências que protejam da depressão, comportamentos autolesivos e atos suicidas”, medidas estas que “enfatizam a importância da existência de serviços comunitários de saúde mental e da sua articulação com os cuidados de saúde primários.”

O PNPS reporta-se também à promoção de resiliência em desempregados, referindo a importância de existirem programas de apoio à família, subsídio de desemprego, serviços de saúde disponíveis incluindo de saúde mental, programas ativos de mercado de trabalho e apoio à habitação.

Perante o exposto, o Bloco de Esquerda considera que a audição em sede de Comissão de Saúde do grupo de trabalho responsável pela elaboração do PNPS permitirá aprofundar o conhecimento sobre esta importante matéria e dotar os Grupos Parlamentares de mais informação sobre as propostas enunciadas no PNPS.

Assim, ao abrigo das disposições regimentais e constitucionais, o Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda requer a audição na Comissão de Saúde do grupo de trabalho que elaborou o Plano Nacional de Prevenção do Suicídio 2013/2017.


4 abril 2013 | Por Helena Pinto