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terça-feira, 21 de julho de 2015

OMS publica relatório sobre a Prevenção ao Suicídio

OMS
Mais de 800 mil pessoas morrem por suicídio todos os anos ­­­– a cada 40 segundos uma pessoa se suicida no mundo, de acordo com o primeiro relatório global da OMS sobre a prevenção do suicídio. Cerca de 75% dos suicídios ocorre em países de baixa e média renda.
Envenenamento, enforcamento e armas de fogo estão entre os métodos mais comuns de suicídio global. Evidências da Austrália, Canadá, Japão, Nova Zelândia, Estados Unidos e vários países europeus revela que limitar o acesso a estes meios podem ajudar a evitar o suicídio. Outra chave para a redução de mortes por suicídio é um compromisso dos governos nacionais para a criação e implementação de um plano de ação coordenado. Atualmente, apenas 28 países são conhecidos por ter estratégias nacionais de prevenção do suicídio. 
Fenômeno global
O suicídio ocorre em todo o mundo e em qualquer idade. Mundialmente, as taxas de suicídio são mais altas em pessoas com 70 anos ou mais. Em alguns países, no entanto, as taxas mais elevadas são encontradas entre os jovens. Notavelmente, o suicídio é a segunda principal causa de morte em 15-29 anos de idade no mundo todo.
"Este relatório é um apelo à ação para resolver um grande problema de saúde pública que foi um tabu por muito tempo", disse o Dr. Margaret Chan, Directora-Geral da OMS.
Em geral, mais homens morrem por suicídio do que as mulheres. Nos países mais ricos, três vezes mais homens morrem por suicídio do que as mulheres. Homens com 50 anos ou mais são particularmente vulneráveis.
Em países de baixa e média renda, adultos jovens e mulheres idosas têm maiores taxas de suicídio do que os seus homólogos de países de alta renda. Mulheres com mais de 70 anos são duas vezes mais propensas a morrer por suicídio do que as mulheres com idades entre 15-29 anos.
Casos são evitáveis
A redução do acesso aos meios de suicídio é uma maneira de reduzir as mortes. Outras medidas eficazes incluem relatórios responsáveis ??do suicídio na mídia, tais como evitar linguagem que sensacionalizam o suicídio e evitar a descrição precisa dos métodos utilizados, e identificação e tratamento precoces dos transtornos por uso de substância mental e nas comunidades e pelos profissionais de saúde, em particular.
Cuidados como acompanhamento de profissionais de saúde por meio do contato regular, inclusive por telefone ou visitas domiciliares, para as pessoas que tentaram o suicídio, juntamente com a prestação de apoio da comunidade, são essenciais, porque as pessoas que já tentaram o suicídio são as que correm maior risco de tentar novamente. 
“Não importa onde um país está atualmente na prevenção do suicídio”, disse o Dr. Alexandra Fleischmann, cientista do Departamento de Saúde Mental e Abuso de Substâncias da OMS, “podem ser tomadas medidas eficazes, mesmo começando a nível local e em pequena escala.”
A OMS recomenda países envolvem uma série de departamentos governamentais no desenvolvimento de uma resposta coordenada. Compromisso de alto nível é necessário não apenas no setor da saúde, mas também no âmbito da educação, emprego, bem-estar social e departamentos judiciais.
“Este relatório, a primeira publicação da OMS desse tipo, apresenta uma visão abrangente do suicídio e tentativas e esforços bem sucedidos de prevenção do suicídio em todo o mundo. Sabemos o que funciona. Agora é a hora de agir”, afirmou o Dr. Shekhar Saxena, diretor do Departamento de Saúde Mental e Abuso de Substâncias da OMS.
O lançamento do relatório vem apenas uma semana antes do Dia Mundial de Prevenção do Suicídio, observado em 10 de setembro de cada ano. O Dia em que oferece uma oportunidade para uma ação conjunta de sensibilização e prevenção do suicídio em todo o mundo.

quarta-feira, 17 de junho de 2015



Uma pessoa morre vítima de suicídio a cada 45 minutos no Brasil

Especialistas denunciam falta de campanhas de saúde pública para tratar o tema. Segundo a OMS, 90% dos casos podem ser evitados.


Clique na imagem para ampliá-la e saiba mais  (EM/ D.A Press)
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No Brasil, duas pessoas tentam se matar a cada 45 minutos e, no mesmo intervalo de tempo, uma delas consegue levar a cabo a própria vida. Quem já tentou alguma vez o suicídio terá 50% de chance de, em algum momento na vida, voltar a praticar esse ato de extrema fragilidade da alma humana, alerta Humberto Corrêa, de 45 anos, suicidólogo pós-doutorado por universidade na França e professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com base nos últimos dados divulgados pelo Datasus, em 2012. Quem tenta suicídio pede ajuda, ao contrário do que diz o mito, portanto. O tema, cercado de tabus, será amplamente discutido entre 11 e 13 de junho em Belo Horizonte, durante o 1º Simpósio Latino-americano de Prevenção ao Suicídio.



De maneira empírica, as tentativas frustradas de suicídio chegam 24 horas por dia aos voluntários do Centro de Valorização da Vida (CVV). “A melhor maneira de prevenir o suicídio é desabafar. Muitas vezes, as pessoas ligam para dizer que se sentem sozinhas e solitárias e acabam contando que estão com vontade de morrer. Em geral, as pessoas do entorno não entendem essa dor e tratam o sofrimento delas como algo banal. Desconversam, dizem pra deixar para lá ou só que vai passar”, diz a pedagoga Klênia Batista, uma das integrantes da equipe de 45 voluntários do CVV. O serviço de atendimento e ajuda gratuita por telefone vai completar 50 anos durante a realização do encontro em BH.
Entre os relatos compartilhados com discrição por voluntários do CVV, de conteúdo altamente sigiloso, estão casos de pessoas que teclaram o 141 dizendo estar com insuficiência hepática por já terem ingerido chumbinho; que passaram a ter problemas gástricos devido à ingestão de uma superdose de medicamentos ou que estão obrigadas a usar roupas de mangas compridas para esconder cicatrizes de cortes nos pulsos.

HOMENS X MULHERES 
Segundo Humberto Corrêa, os principais grupos de risco de suicídio são jovens entre 15 e 30 anos e idosos acima de 65, sendo que os homens morrem de três a quatro vezes mais do que as mulheres, embora elas tentem se matar de três a quatro vezes mais do que eles. “Ainda não se sabe exatamente o porquê, mas os dados epidemiológicos mostram que eles usam métodos mais violentos, como armas de fogo ou pular de algum lugar. Já as mulheres, em geral, optam pela ingestão de substâncias, como remédios controlados em excesso”, completa.

Uma das descobertas mais importantes da medicina dá conta de que é possível prevenir o suicídio em 90% das vezes, até porque a totalidade dos casos tem origem em transtornos psiquiátricos, especialmente a depressão, que não foram corretamente diagnosticados e tratados. “O suicídio está sempre associado a uma doença mental, acompanhado de um fator estressor do momento que pode funcionar como gatilho”, esclarece o médico, citando como prováveis desencadeadores a morte de familiares, perda de emprego e desilusões amorosas. Segundo ele, se o paciente depressivo que tentar suicídio recusar o tratamento, insistindo em se matar aos poucos, poderá ser tomada medida extrema de internação involuntária, desde que seja feita a comunicação em 24 horas ao Ministério Público.

DEBAIXO DO TAPETE 

“Quando um assunto é tabu, não o discutimos abertamente, não estudamos, não pesquisamos. Jogamos para debaixo do tapete. Não existem campanhas de saúde pública para tratar o tema”, denunciou Humberto Corrêa, em artigo. Vice-presidente da Associação Latino-americana de Suicidologia, o médico observa que o Brasil publicou, em 2006, sua estratégia nacional de prevenção ao suicídio, mas, “ao contrário de outros países, ainda não a tirou do papel”. Na Inglaterra, o diagnóstico e tratamento rápido dos indícios de casos proporcionou redução dramática dos índices.

“Há momentos na vida em que muitos de nós perdemos a coragem de seguir em frente. Essa situação é mais frequente do que se imagina. Em casos extremos, o desânimo, a melancolia ou a depressão podem precipitar a ideia do suicídio, problema de saúde pública no Brasil e no mundo. O silêncio em torno do assunto agrava a situação. Falar de suicídio, portanto, pode salvar vidas”, é o que escreve André Trigueiro, autor do livro Viver é a melhor opção – A prevenção do suicídio no Brasil e no mundo, com previsão de lançamento em BH em 12 de junho.

domingo, 24 de maio de 2015

É possível prevenir o suicídio? Saiba o que o psicólogo diz a respeito do tema

Segundo a OMS, mais de 800 mil pessoas cometem suicídio todos os anos no mundo, e o Brasil é o oitavo país em número de suicídios


Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), divulgados em 2014, chamam a atenção de governos para o suicídio, considerado “um problema de saúde pública” que não é tratado e prevenido de maneira eficaz.
Segundo a OMS, mais de 800 mil pessoas cometem suicídio todos os anos no mundo, e o Brasil é o oitavo país em número de suicídios.
Esses casos chocam não só familiares e amigos de quem comete o ato, mas as pessoas de um modo geral, que tentam entender o que leva alguém a tirar a própria vida.
Para falar sobre o assunto, o psicólogo Ary Nepote e também a presidente do Sindicato dos Jornalistas, Marly Caldas, estiveram no programa Acorda Cidade, onde esclareceram algumas questões sobre a abordagem jornalística do suicídio e os fatores que podem levar uma pessoa a cometer o ato.
Acorda Cidade: O que leva uma pessoa a cometer suicídio? A psicologia explica?
Ary Nepote: Vivemos atualmente um tempo de sobrecarga, que desenvolve muito nas pessoas o enfraquecimento dos vínculos sociais e afetivos, produzindo, em consequência, uma individualidade, competição e agressividade.
Esses fatores enfraquecem os vínculos, diminuem a afetividade nas aproximações imediatas, que são os membros de uma família, enfraquecendo o desenvolvimento das estruturas da personalidade de uma criança e de um adolescente para suportar esses momentos de sobrecarga.
O apego e a necessidade de carinho provocam uma angústia natural na criança quando ela busca esse apego na direção dos pais. Essa angústia que essa necessidade provoca só é controlada quando os pais se aproximam e se fazem presentes na vida dela.
Administrando essa angústia, portanto, e suprindo essa necessidade de afeto, fortalece a criança, em termos psíquicos, e a estrutura dessa personalidade que o fortalece para enfrentar as diferenças, a sobrecarga e as dificuldades que a vida vai oferecer.
AC: Então é uma coisa que vem desde criança?
Ary Nepote: Sim, vem lá de baixo. A dependência da criança quando está no útero de uma mulher é completa. Essa criança está automaticamente satisfeita em suas necessidades. Ao sair, cria-se uma distância entre a satisfação dessa necessidade e o acudimento da mesma.
Essa distância é que vai produzindo e fazendo acontecer os impulsos emotivos primitivos como raiva, ódio, agressividade. Na medida em que esse aconchego se torna, de alguma maneira, cuidadoso, a mãe demonstra um amor no tipo de atendimento dessas necessidades, a criança se fortalece na confiabilidade dos seus vínculos com o mundo.
O enfraquecimento desse tipo de aconchego no início da vida predispõe a uma espécie de enfraquecimento da confiança e consequentemente da afetividade que, de certo modo, intenciona seu gesto com a vida.
AC: O suicídio é motivado pela depressão?
Ary Nepote: O processo de viver é um vínculo que se estabelece na relação entre criança e os pais ou seus cuidadores. É um processo lento e contínuo, pois depende de duas condições para que tal ocorra.
Primeiro é o estabelecimento de limites, que é realmente adequado a essa aproximação, esse cuidado que os pais têm com os filhos no tocante a regras e normas. A segunda, é justamente o estabelecimento de datas, é saber esperar.
O prazer real só ocorre na vida quando sou capaz de esperar pelo objeto desejado. A expectativa que desenvolvo nessa espera me causa mais prazer do que realmente a consecução do fato. Isso se chama desejo.
A maior herança que os pais deixam para os seus filhos é exatamente essa proposta do desejo de intencionar seus gestos com prazer para obter na realidade a satisfação do viver.
Quando isso falha em função de acontecimentos históricos da própria vida do indivíduo, há uma empatia, de desânimo, desse íntimo com a realidade.
Esse enfraquecimento desmotiva o indivíduo a viver, pois ele atribui o seu sofrimento à vida e busca a compensação numa proposta do encontro com o eterno, que é a morte.
AC - O que causa a depressão?
Ary Nepote: É uma deficiência do amor próprio, do autoconhecimento que o indivíduo possui com relação a se encontrar em função das falências que essa pessoa já traz de abandono, de dificuldade, de satisfação dessa angústia de apego que ele demonstrava quando criança ou adolescente e que as famílias não cuidaram disso.
Hoje a grande parte dos pais é queixosa e demonstra uma intranquilidade em relação aos objetivos de vida. Um exemplo é no trânsito, onde alguns pais com os filhos cometem delitos. Depois qual é o tipo de proposta que ele oferece para dar limites a essa criança?
Esses acontecimentos afetam não só a credibilidade no investimento ao outro, como até a própria proposta de autoestima, pois enfraquece quando você percebe que o cuidado que deveria ter não é adequadamente ministrado pelo modelo que você tem, ou pelo cuidador que lhe está próximo.
AC: Sempre se falou em depressão, mas porque está aumentando muito?
Ary Nepote: No século passado fizemos tudo, falamos tudo. Atualmente há muito mais rearranjo do que criatividade. Isso inibe a proposta afetiva de intencionar gestos completos na direção do outro.
Existe uma terapia fundada por uma escola americana por um grupo de psicólogos, chamada terapia do abraço e eles adéquam os familiares a tipos diferentes de abraços, para que possa existir a aproximação, o aconchego, para ver se supre com isto, a alma, que é carente de afeto.
Em uma época de sobrecarga, como vivemos, onde o individualismo se torna bastante intenso, a competição é algo exagerado e consequentemente a agressividade surge e é obvio que a confiança no outro fica prejudicada.
AC: Como o jornalismo lida com a informação do suicídio?
Marly Caldas: É bastante delicado. Durante muito tempo a imprensa se calou. Parece que houve um consenso de que não se deveria divulgar em respeito à dor, a uma possível culpa de alguém, em respeito à família.
Inclusive os manuais de imprensa dos grandes grupos de comunicação se calam ou aconselham evitar noticiar casos de suicídio. Só que isso não é um consenso entre a imprensa geral e, por exemplo, psiquiatras ou psicólogos. O trabalho da imprensa é informação e tem que ser dada com ética, precisão e com respeito à sociedade.
O que a gente pensa é que a notícia tem que ser dada, porém com responsabilidade. A questão não é dar a notícia e sim a forma como ele deve ser dada. Temos uma função social muito importante de formação da sociedade.
Da mesma forma que podemos contribuir para ajudar com aspectos positivos, podemos também prejudicar, dependendo da forma como essa informação é passada.
Qual é a solução? É ter a preocupação de passar a notícia com técnica e ao mesmo tempo saber que do outro lado as pessoas querem, além da informação, conforto.
É pra isso que a gente tenta preparar o profissional de imprensa, para que saiba adequar a notícia para a sociedade e, além disso, levar um debate sobre causas e consequências.
AC: Casos de suicídio podem influenciar outros?
Ary Nepote: O suicídio é a maneira ilusória de eliminar uma dor. O ideal é a pessoa procurar terapia, auxílio, procurar pessoas e isso deve ser dito ao indivíduo que sofre disso.
Marly Caldas: Aí entra a função da imprensa, que é direcionar para esses tratamentos, através de matérias, que além de dar informações sobre o suicídio, direciona para a prevenção.
Esse papel da imprensa é fundamental, já ajudou muita gente e continuará ajudando. A partir do momento que se trata um fato com responsabilidade, com ética, com respeito ao cidadão e à comunidade, vamos ajudar a prevenir diversas patologias sociais.
AC: Quais são os comportamentos estranhos de quem está com depressão?
Ary Nepote: De repente o estilo de vida do indivíduo diminui, ele se torna esquivo, arredio, evita contatos, fica mais tempo sozinho e se prende de uma maneira compulsória nos aparelhos de comunicação online.
Esses aparelhos dão a sensação ilusória do desenvolvimento da inteligência, em função de informações rápidas que o indivíduo tem. É como se ele pudesse armazenar e ter críticas sobre isso, mas a rapidez dos fatos impede que a memória trabalhe nessa direção, então ilude em termos de conhecimento.
Mas ao mesmo tempo o sentimento rebaixa, pois ele não estabelece contatos, ele enfraquece a relação imediata que realmente simboliza o afeto.

Médicos revelam que mundo está perdendo a guerra contra o suicídio

"Não estamos diagnosticando direito nossos pacientes", diz psiquiatra

Traumas de infância são fatores que podem levar ao suicídioThinkstock
“Estamos perdendo a guerra para o suicídio”. A afirmação alarmante é do psiquiatra e professor da USP Mario Francisco Juruena, que explica que, embora não haja uma forma de determinar com plena certeza que um indivíduo vá se matar no futuro, os médicos têm, sim, instrumentos para prever as chances que pacientes graves carregam de tirar a própria vida.
A principal chave da prevenção estaria no tratamento dos traumas de infância. Cicatrizes emocionais que os adultos carregam, de feridas abertas quando eram crianças, podem antecipar muitos dos riscos de suicídio — separação materna, estresse, maus tratos, negligência, perdas precoces e abusos seriam, de acordo com o psiquiatra, alguns dos principais fatores.
Desta maneira, o papel do médico é monitorar o histórico do paciente, dando atenção a traumas severos em qualquer idade, mas mais especificamente na primeira infância e na vida intrauterina.
Isso porque, como conta o psiquiatra, quanto mais precoce o trauma, maior ele será, já que o sistema nervoso de uma criança não está preparado para a agressão, apenas para a afetividade.
— São situações que vão desencadear transtornos afetivos, dependência de substâncias e também o suicídio. Temos que investigar tudo isso a fundo. Nossos índices de suicídio no mundo hoje em dia são iguais aos dos anos 60. Evoluímos no tratamento da aids, do câncer, mas do suicídio, não. Não estamos diagnosticando e prevendo direito nossos pacientes.
Outros fatores de risco, que aumentam as chances de um suicídio no futuro, são o histórico familiar — indivíduos com parentes que tiraram a própria vida correm mais risco de se matar do que outros que não têm registros similares na família — e o sexo do paciente.
De acordo com Juruena, mulheres são muito mais sensíveis ao estresse desde pequenas.
— O trauma e o estresse crônico vão se sobrepor onde houver a vulnerabilidade.
Profissões criativas também constituem um sinal de alerta para os psiquiatras. Um estudo feito em 2013, na Suécia, concluiu que escritores, por exemplo, estão entre os profissionais com maior índice de diagnósticos de esquizofrenia, transtorno bipolar, depressão, ansiedade, abuso de álcool e suicídio, como relata Helio Elkis, psiquiatra e coordenador do Programa de Esquizofrenia da Faculdade de Medicina da USP.
Psiquiatra do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas (IPq-HC), Daniel Martins de Barros acrescenta que um estudo de sua entidade comprovou que pacientes esquizofrênicos e seus parentes tinham mais tendência a escolher empregos relacionados a artes visuais, e que indivíduos bipolares têm propensão a carreiras criativas sobretudo na área cientifica.
Barros chama a atenção, ainda, para a relação entre comediantes e o suicídio.
O ator Robin Williams, que tirou a própria vida em 11 de agosto de 2014, e o brasileiro Fausto Fanti, que se matou um mês antes, engrossam as estatísticas e provam que a figura do palhaço triste, retratada em personagens clássicos há décadas, reproduz com perfeição a mente angustiada dos humoristas, escondida atrás de uma persona feita para alegrar os outros.
— Os comediantes têm uma maior abertura a ideias novas. Eles têm menos autocontrole, são mais impulsivos, sentem menos emoções positivas, têm menos capacidade de se alegrar, menos amabilidade, e não possuem uma busca social.
Para Barros, os humoristas vivem no limite, buscando o equilíbrio entre agressividade e criatividade, e isto os encaminha ao perigo do suicídio. Carregam traços de doenças psicóticas — encontram associações e padrões onde eles não estão explícitos — e da bipolaridade, como a impulsividade e o pensamento acelerado. Além disso, apresentam maior distorção cognitiva e dificuldade de se focar.
— O humor é uma violação. Já tivemos muitas polêmicas com humoristas no Brasil porque eles saíram da faixa cinzenta do que é próximo de nós e foram para a faixa do que nos viola. Fizeram piadas com mulheres estupradas, por exemplo, algo que é uma violação, sim, como pede o humor, mas que é muito próximo de nós, então não tem graça.
Ainda assim, o psiquiatra evita falar em determinismo, recomendando apenas mais prevenção e diagnósticos mais certeiros.
— O suicídio é prevenível, sim, e várias mortes já poderiam ter sido evitadas.
A jornalista viajou a Porto Alegre (RS) a convite do World Congress on Brain, Behavior and Emotions

segunda-feira, 27 de abril de 2015

BIPOLAR x SUICIDIO


Entre 30% e 50% dos brasileiros portadores de transtorno bipolar tentam suicídio. Essa é a estimativa sustentada pela Associação Brasileira de Transtorno Bipolar (ABTB). De acordo com a entidade, dos que tentam se matar, 20% conseguem o objetivo. De todas as doenças e de todos os transtornos, o bipolar é o que mais causa suicídios

O QUE É O TRANSTORNO BIPOLAR ?
É um disturbio mental crônico e episódico. Começa em geral na infância e adolescência e até os 30 anos a pessoa já desenvolveu a doença . Ela dura a vida toda e evolui com episódios de crises dos polos negativos ou positivo. Ambas podem durar dias, semanas ou anos.


O Transtorno Bipolar do Humor, antigamente denominado de psicose maníaco-depressiva, é caracterizado por oscilações ou mudanças cíclicas de humor. Estas mudanças vão desde oscilações normais, como nos estados de alegria e tristeza, até mudanças patológicas acentuadas e diferentes do normal, como episódios de MANIA, HIPOMANIA, DEPRESSÃO e MISTOS.
É uma doença de grande impacto na vida do paciente, de sua família e sociedade, causando prejuízos freqüentemente irreparáveis em vários setores da vida do indivíduo, como nas finanças, saúde, reputação, além do sofrimento psicológico. É relativamente comum, acometendo aproximadamente 8 a cada 100 indivíduos, manifestando-se igualmente em mulheres e homens.

 

TRATAMENTO E CONTROLE
O controle do transtorno bipolar é feito com estabilizadores de humor e complementado com terapia comportamental. Quando inicia-se o tratamento, o paciente fica mais atento ao seu próprio comportamento e aprende a controlar os sintomas. Não existe a cura, mas existe o controle. Com o tratamento à base de medicamentos, o paciente não desenvolve mais os sintomas e assim pode ter uma vida tranquila e controlada..
A tendência do paciente com transtorno bipolar sem tratamento é ter crises cada vez mais intensas, e  com intervalos menores.


O tratamento na maioria das vezes leva a uma remissão dos sintomas da crise, ou seja, tira o paciente da depressão, da mania ou da hipomania. Uma vez fora da crise, a cada 100 pacientes que interrompem o tratamento, 47 voltam a ter uma nova crise em menos de um ano, e 92 em até dois anos. Como a taxa é muito alta, existe um consenso internacional de que o paciente tem que fazer um tratamento preventivo, para evitar futuros episódios Esses tratamentos preventivos diminuem pela metade a chance de novas crises.

 



Suicídio

“Parece simplesmente não existir nenhuma luz no fim do túnel.”
“Nada mais parece fazer sentido, há apenas uma dor tão pesada que carrego, e que não consigo mais suportar…”
“Não aguento mais viver assim, eu gostaria de viver, mas não assim…”
“Não há mais nada que eu possa fazer, seria melhor morrer…”

Para algumas pessoas, em determinados momentos da vida, pensar na morte como a única saída para uma situação de sofrimento intolerável, talvez pareça a única solução possível. Quando uma pessoa se sente no limite, de tal forma angustiada, desesperada e sem esperança, é compreensível que considere que prescindir do direito de viver, apesar de constituir uma solução permanente, pareça ser a melhor forma de lidar com uma situação que, naquele momento, é tão avassaladora e dolorosa. É como se sentisse que está perdida num labirinto completamente escuro, como se todos os caminhos que permitem o acesso às portas de saída deixassem de existir, e quem mesmo que tentasse percorrer um desses caminhos, isso apenas resultaria em mais um esforço inútil, pois não só encontraria as portas completamente trancadas, como não teria disponíveis as chaves adequadas para as abrir.
Se para si, a dor emocional que sente é de tal forma elevada, que a possibilidade de suicídio é uma opção viável, ou se de outra forma, receia que alguém que lhe é importante esteja a correr esse risco, reflita por favor, apenas por mais um pouco, nas próximas linhas e permita que esta informação a possa ajudar a compreender quão urgente pode ser procurar ajuda especializada.
Reconhecemos que falar sobre suicídio é particularmente desafiador. Parece que, semelhante a tantas outras situações de vulnerabilidade psicológica, para as quais preferimos olhar apenas em secreto, o silêncio funciona somente como mais uma “máscara” que visa esconder uma realidade de profunda dor, misturada com sentimentos de vergonha, estigmDesesperoa e diferença … oferecendo, mais uma vez, pouca ou nenhuma ajuda útil. Por isso, gostaríamos de por momentos, convidá-lo/a a retirar essa máscara, e a vestir o papel de um/a espectador/a atento/a, a uma realidade tão presente nas ditas sociedades modernas. Senão repare: apenas num único ano, cerca de um milhão de pessoas no mundo tiraram a sua própria vida – aproximadamente uma morte a cada 40 segundos – e provavelmente há 4 milhões que o tentam fazer! O suicídio encontra-se entre as 10 primeiras causas de morte, sendo que porcada suicídio ocorrem 11 tentativas sem sucesso. Cerca de 20% das pessoas que tentam suicidar-se, senão procurarem ajuda especializada, repetem essa ação no prazo de um ano, aumentando a probabilidade de eventualmente morrerem por suicídio. Cerca de 10 % de todas as tentativas de suicídio são mortais.Só em Portugal, a taxa de suicídio dobrou na última década, de cerca de 600 para mais de 1.200 casos por cada ano. Dá que pensar, não é? Até porque, embora os números referidos pareçam deveras assustadores e difíceis de aceitar, a possibilidade de escolher por fim à sua própria vida, pode afectar, em alguma medida, a cada um de nós, ou tão importante quanto isso, pode envolver uma pessoa que nos é tão querida, independentemente da idade, condição socioeconómica ou localização geográfica.
É importante entendermos que, a probabilidade de uma pessoa cometer suicídio varia num contínuo, que contempla a ideação suicida – pensamentos acerca da possibilidade de cometer o suicídio -, a tentativa de suicídio – gestos auto-destrutivos não fatais – , até ao suicídio consumado, que resulta em morte. Mas face a qualquer um desses grupos, naturalmente a questão à qual gostaria de saber uma resposta, se prenda com o que motiva alguém a escolher terminar com a sua própria vida. Em termos genéricos, por um lado, o suicídio veicula o desejo de uma pessoa em escapar ou terminar com o seu sofrimento (que é resultante de variadíssimos problemas) e, por outro lado, o seu desejo em comunicar o seu sofrimento aos outros – é um pedido de ajuda. Além disso, cada pessoa têm os seus próprios motivos, muito particulares, profundos e extremamente dolorosos que a levam a ponderar desistir de viver. Uma mudança repentina nas suas circunstâncias de vida, tais como dificuldades financeiras, desemprego ou perda de estatuto socioeconómico, mudanças no contexto familiar ou relacional (divórcio, fim de uma relação, morte de um familiar…) ou ainda a sensação de isolamento, solidão e a ausência de horizontes ou projetos futuros podem constituir factores relevantes.
Não esqueçamos também a companhia indesejável de certas perturbações do humor (depressão, perturbação bipolar, esquizofrenia), que podem contribuir para um estado de maior desorganização e desconforto emocional, ao fragilizarem as potenciais competências para pensar em soluções e lidar com as adversidades,o que por sua vez aumenta a possibilidade do desespero se tornar ainda mais intolerável. Sabia que mais de metade das pessoas que se suicidaram, estavam deprimidas? Estima-se ainda que o risco de suicídio ao longo da vida em pessoas com perturbações do humor (principalmente depressão) é de 6 a 15%; com alcoolismo, de 7 a 15%; e com esquizofrenia, de 4 a 10%.
A comunidade científica também nos informa que a probabilidade de tentar o suicídio é duas a três vezes superior nas mulheres, enquanto os homens apresentam uma probabilidade quatro vezes maior de o consumarem. A escolha do método de suicídio, que pode ser influenciada pela disponibilidade de meios, também é variável em função do género feminino ou masculino.
Na verdade, talvez possa ficar surpreendido ao se aperceber que a maioria das pessoas que pensam, tentam ou cometem o suicídio, escolheriam outra forma de solucionar os seus problemas, se não se encontrassem numa tal angústia que as incapacita de avaliar as suas opções objectivamente. A sua intenção é parar a sua imensurável dor psicológica e não pôr termo à sua vida. Dão por isso sinais de esperança de serem salvas. Querem simplesmente fugir das duras realidades da vida e tensões com as quais não conseguem lidar, para as quais não vêm uma solução possível, nem perspectiva de melhoria ou mudança no futuro.

O suicídio pode ser compreendido como resultando da interação de 3 factores: pressão/stress social, vulnerabilidade individual e disponibilidade de meios:
Alguns números acerca das características das pessoas que tendem a suicidar-se…
  • Mais frequente nos homens que nas mulheres (2:1).
  • Presença de problema psiquiátrico/psicológico em pelo menos, 93% dos casos.
  • Perturbação do humor (depressão, bipolaridade) ou alcoolismo em 57-86 % dos casos.
  • Doença terminal em 4-6% dos casos.
  • Cerca de 66% comunicaram a intenção suicida (40% de forma clara).
  • Cerca de 33% tiveram tentativas anteriores de suicídio.
  • Cerca de metade não tinham contactado técnicos de saúde mental.
  • 90% tinham contactado serviços de saúde.

Factores que aumentam a probabilidade de suicídio

  • Modelos de suicídio: familiares, pares sociais, histórias de ficção e/ou notícias veiculadas pelos média;
  • História de suicídio, violência ou de perturbação de humor na família.
  • Tentativas prévias de suicídio;
  • Ameaça ou ideação suicida com plano pormenorizado elaborado;
  • Acesso fácil a agentes letais, tais como armas de fogo ou pesticidas;
  • Presença de depressão, esquizofrenia, alcoolismo, toxicodependência e perturbações de personalidade;
  • Presença de perturbações alimentares (bulimia).
  • Presença de doenças de prognóstico reservado (HIV, cancro etc.);
  • Hospitalizações frequentes, psiquiátricas ou não;
  • Ter entre 15 e 24 anos ou mais de 45;Depressão
  • Desemprego ou dificuldades económicas que alteram o estatuto familiar;
  • Problemas no trabalho;
  • Morte do cônjuge ou de amigos íntimos;
  • Família actual desagregada: por separação, divórcio ou viuvez.
  • Perdas precoces de pessoas importantes (pais, irmãos, cônjuge, filhos);
  • Falta de apoio familiar e/ou social;
  • Ausência de projectos de vida;
  • Desesperança contínua e acentuada;
  • Culpabilidade elevada por actos praticados ou experiências passadas;
  • Ausência de crenças religiosas;
  • Mudança de residência;
  • Emigração;
  • Reforma;
  • Ter sido alvo de abuso sexual ou psicológico;
  • Experiência de humilhação social recente

Suicídio: ato planeado ou impulsivo?

O suicídio raramente é uma decisão repentina, apesar de amigos e familiares conceberem esse acontecimento como algo completamente inesperado, surpreendente ou até chocante. Na maioria dos casos, o suicídio é algo planeado – a pessoa constrói um plano, estabelece uma data, define um método e pensa nessa possibilidade ao longo de algum tempo, antes de tomar uma decisão definitiva.
Porém, a impulsividade é uma característica da personalidade que interfere na tomada de decisão, ao modelar a rapidez com que se passa do pensamento ao ato, podendo constituir um factor de risco acrescido. Existem assim algumas situações em que o suicídio ocorre de forma impulsiva.Perante uma dada situação, que é dolorosa e intolerável,a pessoa toma uma decisão imediata, precipitada e sem pensar (no sentido de minorar a dor emocional sentida), emitindo uma resposta auto-destrutiva que conduz à consequência irreversível da morte.

Sinais de alerta

Como descrito anteriormente, a maioria das pessoas que se suicidam, dão pistas e sinais de aviso, mas os outros que as rodeiam não estão conscientes do seu significado nem sabem como responder. Eis alguns exemplos de sinais de alerta, cuja detecção atempada e intervenção eficaz poderá salvar vidas:
  • Tornar-se uma pessoa depressiva, melancólica (apresenta uma grande tristeza, desesperança e pessimismo, chora sistematicamente);
  • Falar muito acerca da morte, suicídio ou de que não há razões para viver, utilizando expressões verbais tais como “Não aguento mais”, “Já nada importa”, ou “Estou a pensar acabar com tudo”;
  • Preparativos para a morte: pôr os assuntos em ordem, desfazer-se/oferecer objetos ou bens pessoais valiosos, fazer despedidas ou dizer adeus como se não voltasse a ser visto;
  • Demonstrar uma mudança acentuada de comportamento, atitudes e aparência;
  • Ter comportamentos de risco, marcada impulsividade e agressividade;
  • Aumento do consumo de álcool, droga ou fármacos;
  • Afastamento ou isolamento social;
  • Insónia persistente, ansiedade ou angústia permanente;
  • Apatia pouco usual, letargia, falta de apetite;
  • Dificuldades de relacionamento e integração na família ou no grupo;
  • Insucesso escolar (por exemplo, quando antes era aluno interessado);
  • Auto-mutilação.

Face a este quadro, é provável que dê por si a reconhecer pelo menos alguns destes sintomas em pessoas que conheça, ou até mesmo em si próprio. Note, contudo, que a lista fornecida apenas fornece alguns exemplos de sinais que podem indiciar a presença de ideação ou tentativa de suicídio. Naturalmente, quanto maior o número de sinais presentes, maior o risco de suicídio, e paralelamente, maior a urgência em procurar ajuda quanto antes.

Como intervir?

Se veio até esta página por estar a colocar o suicídio como uma opção, queremos que saiba que não está sozinho. A sua vida é importante e podemos ajudá-lo. Por vezes, não falar dos problemas faz com que eles cresçam dentro de nós e conversar com alguém faz com que eles diminuam de tamanho e facilita o encontro de soluções alternativas.
OportunidadeO acompanhamento individual é a melhor forma de criarmos um espaço em que se possa sentir seguro, compreendido e ajudado na procura de outras opções ou soluções para as suas dificuldades. Nesse espaço, pretende-se:
  • Validar a vivência de desespero, tristeza e sofrimento emocional enquadrando-a na sua história de vida presente, passada e futura;
  • Compreender os motivos que o levam a colocar o suicídio como uma opção;
  • Olhar para os seus problemas sem os julgar, decompô-los em partes mais pequenas para que possam ser trabalhados separadamente;
  • Analisar as crenças subjacentes à convicção de que não existem outras alternativas de pôr fim à dor além do sofrimento;
  • Discutir a relação entre o que pensa, o que sente e como reage, monitorizando esses três elementos da experiência;
  • Encontrar novas formas de lidar com os problemas:Explorar e criar alternativas de solução que possam existir na sua vida (que neste momento não estejam facilmente visíveis) e desenvolver competências de confronto e resolução de problemas;
  • Desenvolver formas eficazes e adaptativas de comunicar os seus problemas aos outros;
  • Promover o seu sentimento de controlo e eficácia pessoal;
  • Desenvolver estratégias de relaxamento que o possam tranquilizar no seu dia-a-dia e em situações de crise;
  • Promover a discussão de cenários futuros mais satisfatórios.
Este é um trabalho prático, que poderá nalguns momentos envolver familiares e amigos se isso for vantajoso. Os objectivos enunciados são apenas orientadores, dado que todo o processo de ajuda é centrado em si, nas suas características e na sua forma de ver o mundo e pretende-se que tenha impacto não só no seu presente, como também no seu futuro.

O que fazer quando identificar sinais de risco?

Se veio até aqui porque desconfia que um amigo, um familiar, ou um conhecido seu poderá estar a pensar em suicídio, ou que inclusive já fez uma tentativa de se suicidar, e não sabe como o ajudar, existem várias coisas que pode fazer por essa pessoa. Se reconhecer os sinais que descrevemos, aqui estão algumas indicações do que poderá fazer:

  • Em primeiro lugar, ser um bom ouvinte é essencial – simplesmente oiça,com toda a atenção, não apenas os factos, mas a sua dor, medos e ansiedades. Não julgue, nem dê conselhos ou opiniões.
  • Reconheça o seu sofrimento, valorize o que é dito e demonstre que está disponível para a ajudar. É fundamental que essa pessoa saiba e sinta o quão importante ela é para si, que a sua vida tem valor para alguém e que a sua dor emocional é compreensível e aceitável face às suas vivências presentes.
  • Demonstre empatia – procure compreender as coisas não do seu ponto de vista, mas segundo o ponto de vista do outro.Não faça comparações.
  • Se essa pessoa que o preocupa não falar abertamente do que sente ou pensa, é importante que tome a iniciativa em conversar com ela. Diga claramente que se apercebeu que o seu comportamento mudou (especifique que mudanças específicas observou) e que está preocupado/a com o que possa ter causado essas mudanças.
  • Não mude de assunto, nem faça comentários do tipo “anima-te”, “vai correr tudo bem”.
  • Não hesite em questionar aberta e diretamente se essa equaciona a ideia de suicídio como uma opção válida. Pode dizer algo como: “Imagino que estejas a sofrer muito, que seja avassaladora a dor que sentes em função de toda esta situação. Estás a considerar o suicídio como opção?”, “Parecem ser demasiados problemas para aguentares sozinha. Pensaste no suicídio como fuga?”, “Alguma vez pensaste em deixar tudo?” Essas questões transmitem a mensagem de que existe alguém que compreende a sua dor psicológica e de que a pessoa não estão sozinha. Naturalmente, a abordagem a este tema sensível varia em função da situação e relação de confiança estabelecida.
  • É importante que a pessoa que pensa em suicídio saiba que a sua morte causaria sofrimento nas pessoas que a rodeiam, e haveriam pessoas que sentiriam a sua falta. Por isso, nunca é demais ter um gesto de carinho para com ela. Por vezes, a tentativa de suicídio pode ser um pedido de ajuda que se pode evitar se a pessoa compreender, antes de tentar terminar a sua vida, que existe alguém que gosta de si, se importa consigo.
  • Nunca deixe a pessoa sozinha se sentir que existe perigo de ela cometer suicídio, nomeadamente se lhe parecer que a mesma tem um plano concreto de suicídio e já tomou decisões para o pôr em prática. Incentive-a a pedir ajuda especializada (a um hospital, médico, psicólogo, ou psiquiatra) e retire da sua proximidade todos os objectos com que a pessoa se possa magoar. Se for necessário, chame uma ambulância, ou outro tipo de ajuda que possa ser pertinente, rapidamente.

Como lidar com a perda?

Se teve alguém na sua vida que se suicidou, provavelmente sente culpa e sente que transporta consigo o peso dessa vida perdida. É natural que sinta que podia ter agido de forma diferente, que podia ter feito coisas diferentes. Poderá sentir que deveria ter notado os sinais, talvez reveja constantemente os últimos tempos que passou com essa pessoa, as últimas coisas que lhe disse. Gostávamos de lhe propor que parasse por momentos e ficasse com esta ideia: uma pessoa que se suicida está em grande sofrimento. Enquanto amigos e familiares, podemos fazer o que está ao nosso alcance para demonstrar a importância que a vida dessa pessoa tem para nós. Mas muitas vezes os sinais são difíceis de detectar, e mesmo que os tivesse reconhecido, isso não seria uma garantia de que as coisas teriam sido diferentes. Em último caso, a decisão é sempre da pessoa que comete o acto – a culpa não é sua. A responsabilidade pelo que aconteceu, não estava nas suas mãos.

Se o conteúdo desta página o toca directamente, e se se identifica com estes sinais ou conhece alguém nesta situação, peça ajuda. Na Oficina da Psicologia, existem várias pessoas prontas para lhe prestar toda a ajuda necessária, que respeitarão as suas ideias, as suas crenças, os seus problemas e respeitarão, acima de tudo, o seu valor enquanto pessoa.Por isso, antes de escolher uma opção irreversível, dê pelo menos uma oportunidade a si mesmo de experimentar uma solução diferente. Estamos disponíveis para si – a sua vida é importante para nós.

Alguns mitos sobre suicídio

MitoAs pessoas que falam sobre o suicídio não vão realmente cometê-lo só querem chamar a atenção, não devemos dar importância.
Realidade: Não, é essencial estar atento ao que a pessoa diz – o facto de falar em suicídio é um sinal de alerta. É um pedido de ajuda, uma forma de comunicar o seu sofrimento, e não apenas uma chamada de atenção.É importante aceitar, compreender e valorizar o que a pessoa sente.

MitoA pessoa que fala em suicídio quer mesmo morrer e está decidida a matar-se, independentemente do que façamos.
RealidadeQuando alguém fala em suicídio, é importante reconhecer a dor da pessoa, porque ela está a pedir ajuda e podemos ainda estar a tempo de a ajudar de alguma forma.

Mito: Quando alguém sobrevive a uma tentativa de suicídio, está fora de perigo.
Realidade: Na verdade, a existência de tentativas prévias de suicídio é um factor de risco que aumenta a probabilidade da pessoa tornar a tentar suicidar-se.

Mito: O suicídio é hereditário.
Realidade: Não existem estudos com resultados claros, e de facto a existência de suicídios na família pode ser um factor de risco a considerar. No entanto, existem muitos outros factores que interferem na tomada de decisão, não sendo a hereditariedade o factor mais determinante.