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terça-feira, 9 de abril de 2013

Suicídio: prevenção possível em 90% dos casos


Escrito por André Trigueiro   
cvv telefonePrevenção de doenças se faz com informação. E que o que vale para dengue, AIDS, câncer de mama, tuberculose e hanseníase vale também para suicídio. Em 90% dos casos, os casos oficialmente registrados de suicídio estão relacionados a transtornos mentais como depressão, reações ao uso de drogas lícitas ou ilícitas, esquizofrenia, transtornos de personalidade e outros males que podem ser tratados se houver diagnóstico e acompanhamento médico. O apoio de familiares e amigos é considerado fundamental.
O assunto merece atenção porque tanto no Brasil quanto no mundo, suicídio é caso desaúde públicaQuando a Organização Mundial de Saúde revelou que aproximadamente três mil pessoas se matam por dia; que esse número cresceu 60% nos últimos cinquenta anos, especialmente nos países em desenvolvimento; e que o suicídio já é uma das três principais causas de morte entre os jovens e adultos de 15 a 34 anos, poucos veículos de comunicação se interessaram em abrir espaço para essas informações.
Talvez tenha prevalecido a tese de que qualquer menção ao suicídio na mídia possa fomentar a ocorrência de novos casos. O risco de fato existe quando se explora o assunto de forma sensacionalista, dando visibilidade a detalhes mórbidos que possam inspirar a repetição do gesto fatal. Mas a própria OMS recomenda enfaticamente a veiculação através da mídia de informações que ajudem na prevenção do suicídio. "A disseminação de informação educativa é elemento essencial para os programas de prevenção; nesse sentido, a imprensa tem um papel relevante", é o que se lê na apresentação do manual de prevenção do suicídio dirigido aos profissionais de imprensa pelo Ministério da Saúde em parceria com a Organização Pan-Americana de Saúde.
E quais são as informações relevantes que precisam ter mais espaço na mídia? Além do fato de que o suicídio é prevenível na maioria absoluta dos casos, é igualmente importante reconhecer as circunstâncias em que há "risco de suicídio", principalmente quando a pessoa verbaliza o desejo de se matar − nesses casos os profissionais de saúde informam que a maioria das pessoas que tiraram a própria vida comunicou a intenção previamente − ou quando apresenta os sintomas de depressão, que, nas manifestações mais graves, requer cuidados redobrados. No enfrentamento da depressão, estima-se que dois terços das pessoas tratadas respondem satisfatoriamente ao primeiro antidepressivo prescrito.
Embora este seja um assunto ausente na mídia, estima-se que ocorram 24 casos por dia no Brasil. Aqui ainda se registram taxas pequenas em relação a outros países (3,9 a 4,5 para cada cem mil habitantes), mas em números absolutos já estamos entre os dez países do mundo onde ocorrem mais suicídios (aproximadamente oito mil casos por ano), uma quantidade certamente bem superior, considerando que muitos atestados de óbito omitem a intenção do suicídio em mortes oficialmente causadas por acidentes de trânsito, overdose, quedas etc. Há outros números que deveriam justificar uma preocupação maior da sociedade em relação ao problema: as tentativas de suicídio ocorrem numa proporção pelo menos dez vezes superior ao dos casos consumados e para cada suicídio, há em média cinco ou seis pessoas próximas ao falecido que sofrem consequências emocionais, sociais e econômicas.
Omitir essas informações da sociedade significa esconder a sujeira debaixo do tapete e fingir que o problema não existe. Se prevenção se faz com informação, é preciso enfrentar com coragem o tabu que envolve o suicídio. Tão importante quanto rastrear as causas desse problema de saúde pública − incentivando a realização de pesquisas, seminários e congressos científicos − é apoiar e divulgar o trabalho realizado nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) do Ministério da Saúde espalhados por todo o país (informações através DISQUE SAÚDE: 0800 61 1997) e também pelas redes de proteção que trabalham em favor da vida, como é o caso dos grupos de apoio que reúnem os "sobreviventes de si mesmo", aqueles que tentaram, mas não conseguiram se matar; familiares e amigos de suicidas que compartilham suas experiências em dinâmicas de grupo conduzidas por terapeutas; e organizações voluntárias que realizam gratuitamente um serviço de apoio emocional e prevenção do suicídio por telefone como é o caso do Centro de Valorização da Vida (CVV) pelo número 141.

Para saber mais:
Suicídio: uma morte evitável (Ed. Atheneu; Henrique Côrrea e Sérgio Perez Barrero)
O suicídio (Ed. Martin Claret; Emile Durkheim)
Tentativa de suicídio - Um prisma para compreensão da adolescência (Ed. Revinter; Enio Resmini)
Comportamento suicida (Ed. Artmed; Blanca Guevara Werlang; Neury Botega)
O demônio do meio-dia - Uma anatomia da depressão (Ed. Objetiva; Andrew Solomon)


Prevenção do suicídio em Portugal discutido por parlamentares

Os debates em torno do Plano Nacional de Prevenção do Suicídio 2013/2017 em Portugal continuam acirrados e indicam que o tema tem se tornado corriqueiro, o que é um bom sinal, por se tratar de uma discussão necessária.

E no Brasil? Quando começaremos efetivamente a elaborar um plano nacional e fazê-lo chegar na mídia?!


Audição do grupo de trabalho que elaborou o Plano Nacional de Prevenção do Suicídio 2013/2017

De acordo com o Plano Nacional de Prevenção do Suicídio (PNPS) 2013/2017, o suicídio é um fenómeno complexo que resulta da interceção de diversos fatores de ordem filosófica, antropológica, psicológica, biológica e social.

A nível mundial, o suicídio é responsável por uma taxa de mortalidade global de 16 por 100.000 habitantes, sendo a 13ª causa de morte, a terceira causa de morte no grupo etário dos 15 aos 34 anos e a segunda causa de morte nos jovens dos 15 aos 19 anos. As tentativas de suicídio são a sexta causa de défice funcional permanente.

Na maioria dos países europeus, o número anual de suicídios é superior ao das vítimas de acidentes de viação: nos 27 países da União Europeia a taxa média de suicídio por 100.000 habitantes foi, em 2010, de 9,4 enquanto o número de mortes por acidentes de viação foi de 6,5 por 100.000 habitantes.

Em 2010, em Portugal, a taxa de suicídios por 100.000 habitantes foi de 10,3; esta taxa é superior à de quaisquer outras mortes violentas, como sejam os óbitos causados por acidentes de viação ou por acidentes de trabalho.

O PNPS afigura-se como uma necessidade do país, tendo em conta o impacto do suicídio na saúde pública, o aumento das taxas de suicídio registado pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) na última década, a subnotificação dos suicídios que oculta a verdadeira dimensão do fenómeno, a prevalência de fatores de risco nomeadamente da doença mental, a dificuldade na harmonização da terminologia relacionada com os diversos tipos de atos suicidas e comportamentos autolesivos, a dificuldade de registo e avaliação da efetividade das medidas implementadas ou a implementar e a necessidade de criar sinergias com as experiências e recursos existentes.

Refere-se no PNPS que “o compromisso político é essencial para garantir que a prevenção do suicídio recebe os recursos de que necessita, bem como a necessária atenção por parte dos líderes nacionais e regionais”. Neste sentido, são efetuadas diversas considerações sobre as repercussões da crise na saúde mental considerando-se que “a utilização de recursos de proteção social” faz a diferença na prevenção e redução do número de suicídios. Relativamente ao investimento em saúde mental nas crises constata-se que “o investimento em saúde mental é custo-efetivo, sobretudo nos períodos de crise”.

No que concerne a bebidas alcoólicas e crise, preconiza-se “o aumento do preço, a definição de preço mínimo, o reconhecimento precoce de consumos bem como de depressão e risco de suicídio, desenvolvimento de competências que protejam da depressão, comportamentos autolesivos e atos suicidas”, medidas estas que “enfatizam a importância da existência de serviços comunitários de saúde mental e da sua articulação com os cuidados de saúde primários.”

O PNPS reporta-se também à promoção de resiliência em desempregados, referindo a importância de existirem programas de apoio à família, subsídio de desemprego, serviços de saúde disponíveis incluindo de saúde mental, programas ativos de mercado de trabalho e apoio à habitação.

Perante o exposto, o Bloco de Esquerda considera que a audição em sede de Comissão de Saúde do grupo de trabalho responsável pela elaboração do PNPS permitirá aprofundar o conhecimento sobre esta importante matéria e dotar os Grupos Parlamentares de mais informação sobre as propostas enunciadas no PNPS.

Assim, ao abrigo das disposições regimentais e constitucionais, o Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda requer a audição na Comissão de Saúde do grupo de trabalho que elaborou o Plano Nacional de Prevenção do Suicídio 2013/2017.


4 abril 2013 | Por Helena Pinto