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sábado, 21 de maio de 2016

“Falta coragem para enfrentar o tabu do suicídio”

O jornalista André Trigueiro, autor de livro sobre o assunto, palestra neste sábado em Balneário 

O jornalista André Trigueiro, autor do livro Viver é a melhor opção, estará em Balneário Camboriú neste sábado para uma palestra gratuita sobre suicídio. Vem a convite do Centro de Valorização da Vida ( CVV), que atua na prevenção. 

Repórter da Rede Globo, editor-chefe do programa Cidades e Soluções, professor de Jornalismo Ambiental e comentarista da CBN, Trigueiro se interessou pela invisibilidade do assunto. Seus levantamentos chegaram ao impressionante número de 800 mil suicídios por ano no mundo – uma morte a cada 40 segundos. 

Trigueiro defende a informação como prevenção. A palestra será gratuita, no Hotel Sibara, às 20h. Antes disso, a partir das 19h, receberá o público para autógrafos. 
É possível prevenir o suicídio? 
Em pelo menos 90% dos casos o suicídio é prevenível porque está associado a patologias de ordem mental diagnosticáveis e tratáveis. Onde houver informação clara e objetiva a tendência é o número de casos cair drasticamente. Prevenção se faz com informação. 

Em nossa região, o número de casos é elevado. Você identificou algum fator que leve a essas tendências regionais? 
Há poucas pesquisas sobre este assunto no Brasil. Um problema recorrente em regiões onde a produção agrícola é intensa é o uso intensivo de agrotóxicos expondo os agricultores a riscos para a própria saúde. As substâncias voláteis desprendidas pelo veneno podem ser inaladas e provocar alterações no sistema nervoso que, não raro, causam depressão profunda. Outra questão é a cultura mais rígida dos descendentes de colonos de alguns países onde há menos flexibilidade para lidar com certos assuntos. A severidade e a disciplina, quando exageradas, podem causar muito sofrimento. 

Como agir com pessoas que falam em se suicidar? 
É importante se disponibilizar para um diálogo franco, sem julgamentos, em que seja possível compreender o que se passa. A desagregação familiar e a ruptura do diálogo dentro de casa criam situações de risco. Dependendo da situação, recomenda-se a ajuda de um psicólogo ou psiquiatra. Há serviços gratuitos de atendimento que têm a missão de oferecer atendimento a quem esteja com a ideia suicida ou seja um sobrevivente de si mesmo, que já tenha fracassado na tentativa. Quem já tentou se matar alguma vez é quem mais precisa de apoio, pois o risco de recorrência é grande. 
A saúde pública tem condições de atuar na prevenção? 
Temos desde 2004 uma Política Nacional de Prevenção do Suicídio, mas ela não saiu do papel. O assunto permanece invisível, nem parece que suicídio é caso de saúde pública no Brasil com 32 óbitos a cada dia. Muitos profissionais de saúde saem das universidades sem conhecer essa realidade ou saber como lidar com pessoas que sofrem essa terrível dor existencial. Faltam conhecimento, vontade política e coragem para enfrentar o tabu em torno do suicídio.